quinta-feira, 15 de julho de 2010

A mensagem de Obama e Portugal


Há quem diga que a campanha de Barack Obama para a Presidência dos Estados Unidos marcou a diferença pela modernidade da estratégia de comunicação fortemente centrada nas redes sociais, em dois ou três slogans, e com o “passa a palavra”. Também foi. Mas, na minha opinião, modesta porque esta não é a minha área, a grande lição que essa campanha deu ao mundo prendeu-se com a simplicidade da mensagem.
É verdade que as redes sociais, a imagem, o marketing político, a própria figura do candidato e os slogans tiveram importância, mas só a tiveram porque a mensagem era simples e, assim, tornou-se acessível ao povo médio.
Mais do que simples, a mensagem soava bem. E, se soava bem, deu a entender à maioria dos norte-americanos e, creio eu, também à maioria do povo do mundo, que a mensagem era verdadeira.
Se atentarmos, agora com mais calma, a cada comício, a cada discurso, verificamos que o essencial do discurso de Obama não estava na crise económica, não estava em projectos ou obras, não estava em denegrir a imagem do adversário com episódios duvidosos. Estava na concretização de um sonho que não era de Obama. Era um sonho americano. De ver um homem que cresceu com dificuldades, com um trajecto de vida dramático e quase épico, que subiu a pulso pela força do seu estudo e do seu trabalho ser eleito Presidente. Esse homem era igual ao cidadão eleitor. Casado. Pai de duas filhas. Nos seus discursos não falava de problemas do Estado, mas de problemas das pessoas. E, porque Obama não mostrava ser mais do que o cidadão que iria votar, conhecia bem os problemas do quotidiano. Era isso que a mensagem transmitia.
Foi essa a chave da vitória. Apelou ao sonho do todo, mas falou dos problemas de cada um. Problemas comuns, do dia-a-dia. Da sobrecarga fiscal à saúde, da educação ao drama da guerra. Foi disso que Obama falou e o “yes we can” a isso se referia. A nada mais.
Quando o PS tentou importar para Portugal esta estratégia de comunicação esqueceu-se que Sócrates não é Obama. E, olhando para o quadro político actual, este modelo não será bem sucedido se vier a ser adoptado por qualquer partido. Porque não há ninguém que tenha uma mensagem igual. E, se assim é, podemos concluir que, por cá, estão tão afastados os governados dos governantes como o seu contrário. Por isso é difícil que possa surgir alguém que venha puxar pelo povo, dizendo-lhes “yes we can”, ou que possa sequer atrever-se em falar de algo como “hope”.

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