Ano após ano, a história repete-se. Sempre. Como se fosse inevitável.
Os noticiários abrem com a notícia, que é a mesma todos os anos, enquanto as populações não dormem com medo de que o fogo lhes tire o que a sua vida de trabalho soube juntar.
Somam-se prejuízos. Repetem-se os apelos. Mas quem decide, quem decide politicamente e é responsável a esse nível, ano após ano, deixa as decisões por tomar.
Há quem tenha o descaramento de pedir aos Céus para que estes tragam um tempo que, não sendo comum nesta época, também não pode ser uma solução séria para o combate aos incêndios.
Quanto dinheiro já perdeu o Estado com esta brincadeira? De certeza que uma percentagem significativa dos impostos que os cidadãos, obrigatoriamente, têm de pagar.
E os particulares afectados? O suficiente para que a agricultura estivesse ao abandono, para que se incentivasse o êxodo rural, para que milhares de pessoas perdessem o seu posto de trabalho.
É evidente que o Estado não pode fazer com que, “do dia para a noite”, deixe de haver área ardida. Mas uma coisa é haver área ardida. Que, aliás, também pode ser combatida politicamente. Outra coisa, completamente diferente, tem que ver com a dimensão da área ardida e respectivas consequências económicas e sociais. Que têm sido enormes. Sempre enormes.
Aqui não se trata de uma catástrofe, imprevisível. Trata-se do que é comum. Do que já começou a ser tradição. Assim como também já é tradição o facto de vermos que o Estado não tem meios para combater o problema. Se, na Suíça, os cidadãos pagam os impostos para que as estradas sejam transitáveis quando neva, em Portugal, os cidadãos, quando pagam impostos, exigem que o Estado, no verão, tenha meios adequados para combater estas tragédias anuais. Que só são tragédias porque o Estado permite que assim seja.
O Estado e os partidos passam os verões a assobiar para o ar, sendo cúmplices com quem incendeia, demonstrando também alguma conivência com aqueles que ganham economicamente com esta tragédia nacional.
Vendem aos portugueses a ideia de que este é um problema sem solução. Não é. Há solução, que é ter passar a ter meios. Meios humanos. Meios materiais. Meios legislativos.
Meios humanos conseguem-se através da racionalização dos recursos do Estado. E, neste aspecto, a escolha está entre ter forças armadas quando não é previsível que o país esteja em guerra ou soldados da paz, profissionais, capazes de reduzir estragos.
Meios materiais conseguem-se quando os responsáveis políticos fizerem as contas e perceberem que, levando só em conta aquele que é o interesse do Todo, compensa ter helicópteros (nossos, em condições, e não alugados ocasionalmente ao estrangeiro) e outros meios materiais de combate aos incêndios.
Meios legislativos conseguem-se numa lógica jurídico-penal que tenha consciência de que aquele que incendeia é um criminoso que, considerado como tal, tem de ser punido. Há que dar consequência à investigação.
É preciso responsabilizar politicamente quem, por omissão, porventura até dolosa, tenha contribuído para que o país não tenha ainda condições para combater esta tragédia nacional que se repete ano após ano.
Responsabilizar politicamente é censurar o Governo. E censurar também o Primeiro-Ministro, mais alto responsável pela inacção governamental.
De uma vez por todas, tem de haver coragem política para mudar este estado de coisas, responsabilizando quem deve ser responsabilizado e apontando uma nova política de combate à tragédia nacional, anual, que se traduz, constantemente, em largos hectares de área ardida e em prejuízos que sentenciam aqueles que, por gosto e no interesse nacional, continuam a cultivar a terra.
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