
A inércia incomoda-me.
Mais me incomoda quando surge conjugada com uma indiferença coadjuvante.
Oeiras, a nível político, exige uma clarificação, porque, quando olhamos para as fronteiras entre o PPD/PSD e o movimento de Isaltino Morais, verificamos algo que se assemelha ao Espaço Schengen, onde a mobilidade não tem restrições, onde não se conseguem descortinar diferenças.
Independentemente do êxito, que, na generalidade, reconheço à meritória gestão de Isaltino Morais à frente da Câmara Municipal de Oeiras, incomoda-me a inexistência de uma oposição, mesmo que essa oposição seja, por diversos motivos, parceira de quem tem, legitimamente, o poder.
Há duas coisas que reconheço: o passado político-partidário local pode justificar a confusão existente entre aquilo que é PSD e aquilo que é IOMAF; Oeiras é um concelho-modelo, que teve, ao longo de trinta anos, uma gestão que foi (e talvez continue a ser) bastante boa. Mas há coisas por fazer, disputas por travar, desafios por enfrentar, combates por fazer. E, por isso, a menos que se assuma que PSD e IOMAF são a mesma coisa, o PSD deve, responsavelmente, fazer oposição ao Executivo Camarário, separando as águas, mostrando que é diferente aos olhos do eleitorado.
Não vou comentar possibilidades que ultrapassam o campo daquilo que é político. Mas o PSD deve estar preparado para exigir que Oeiras não condene o seu futuro, podendo vir a dar legitimidade a quem não a terá.
O que digo ultrapassa esse campo das eventualidades futuras.
Se o PSD em Oeiras fosse responsável, saberia, pelo rua-a-rua, que há muito por fazer. Há locais onde, sem motivos, os moradores são prejudicados, por exemplo, no que toca ao estacionamento, ao qual me tenho referido ao longo dos últimos anos.
Se o PSD em Oeiras fosse diferente (do IOMAF), saberia, pela força inegável de factos, que existem despesas desnecessárias sobretudo ao nível de empresas municipais igualmente desnecessárias, esbanjando-se verbas que poderiam e deveriam ser canalizadas para investimentos públicos ou incentivos sociais.
Se o PSD em Oeiras fosse competente, social-democrata e português, saberia reconhecer que foi feito, ao longo de décadas, um trabalho notável ao nível da integração de comunidades imigrantes, oriundas dos PALOP, primeiramente residentes em bairros de lata e, actualmente, alojadas em habitações dignas, criando-se condições para que as novas gerações, já portuguesas, descendentes dessas comunidades possam ter uma vida de oportunidades. Mas poderia e deveria ficar perplexo face à cada vez menor "Portugalidade" de Oeiras.
Por exemplo, e para não me afastar muito de causas a que me tenho referido, a Festa Brava faz parte histórico-culturalmente de Oeiras, concelho que teve, entre 1895 e 1974, uma Praça de Toiros em Algés, demolida por falta de condições, num espaço que, hoje, envergonha quem, vindo do Restelo, chega, de Lisboa, ao Concelho de Oeiras. Esse espaço é hoje um descampado mal cuidado, facto que não se justifica ainda que se fale de um espaço que é privado.
E por que não pensar em investir no regresso da Festa Brava a Oeiras, num local digno, mesmo que não seja naquela rotunda descuidada ou noutra freguesia que não seja Algés?
Se a ideia é descabida ou se deixa de o ser, esse é um facto que deixo à consideração dos leitores. É um exemplo. Mas há outros.
Veja-se a Ribeira de Algés, que continua sem solução.
Veja-se a descontinuidade entre Lisboa e Oeiras no ponto em que o Tejo abraça o Mar, não havendo, desde que se entra em Oeiras, continuidade para quem passeia ou pratica desporto naquele local único.
A Praia de Algés, que poderia ser ponto estratégico, agora vizinha da Fundação Champalimaud, exige outro tipo de atenção.
O Estádio Nacional, localizado no concelho de Oeiras, pode estar em vias de perder o mais bonito jogo de futebol em Portugal. A Câmara continua indiferente, quando deveria apostar, por via de protocolos, nesse complexo desportivo enquanto símbolo de um concelho que inclui o desporto como um dos direitos dos seus munícipes.
Apesar de não estar mal servida no que respeita aos transportes públicos, Oeiras deveria ser parceira do município de Lisboa no sonho de alargar as linhas de Metro, chamando a atenção ao Poder Central para a necessidade que o turismo sente em fazer o Metro chegar a pontos turísticos lisboetas como o Museu dos Coches, Padrão dos Descobrimentos, Jerónimos ou a Torre de Belém, permitindo-se a conexão, subterrânea ou não, com o concelho de Oeiras, de modo a potencializar Oeiras enquanto destino turístico, promovendo investimentos na hotelaria, apresentando as suas praias como factor determinante, assim como a localização estratégica.
São exemplos entre muitos outros. E são visíveis aos olhos de todos.
Há muito por fazer.
E, a menos que se clarifiquem as diferenças, ou a falta delas, continuo a defender que o PSD Oeiras (se é que continua a existir, em quem comanda politicamente o partido em Oeiras, resquícios daquilo que é e sempre foi o PPD/PSD) deve assumir as suas diferenças, apresentando as suas próprias propostas e os seus próprios projectos, destacando-se como o grande partido da oposição, preparado para assumir funções de poder no concelho a qualquer momento.