Pois é, vem aí um novo ano, que vai ficar marcado, historicamente, entre outras coisas, pela decisão dos portugueses na questão do aborto.
2006 acaba agora e eu faço um balanço negativo deste ano, do ponto de vista político, jurídico, desportivo, entre outros. No entanto, não quero dizer que foi um ano em que tudo correu mal. Não. A selecção portuguesa fez um excelente Campeonato do Mundo de futebol, alcançando um honroso quarto lugar. Portugal tem, pela primeira vez, um Presidente da República de centro-direita. Contudo, se foi um ano mau, na minha opinião, deixou-nos claros sinais de esperança num futuro melhor, embora, na generalidade, tudo o que estava mau continuou mau e uma boa, ou significativa, parte das coisas boas pioraram.
Ora vejamos, 2006 trouxe-nos um novo Presidente da República, mas esse acontecimento, por si só, não pode mudar grande coisa. O governo continua a propagandear a sua actuação, sem alcançar grandes resultados. Por exemplo, na saúde, apesar de se estarem a fechar vários hospitais, o número de pessoas em lista de espera diminuiu. Pouco, mas diminuiu. No entanto, com a possível despenalização da interrupção voluntária da gravidez nas dez primeiras semanas, a que eu chamo liberalização do aborto no referido prazo, as listas de espera poderão agravar-se. O governo tem estado a "cortar" em todo o lado, "apertando" com tudo e com todos, muitas vezes à custa dos tais impostos que prometera não aumentar. O que aumentou foi o desemprego, a violência e o desespero das pessoas face ao governo e face à oposição, sobretudo com os partidos de centro e de direita. É que quando o governo é incoerente, dizendo e defendendo umas coisas e fazendo, exactamente, o contrário, pede-se à oposição que, no fundo, faça oposição. Mas o PSD faz o mesmo que o governo socialista tem feito e o CDS, também ele, muito dividido, parece demasiado monótono. Por isso e por vários outros factos, dos quais, de resto, tenho vindo a falar, quem sobe nas sondagens são os partidos de extrema esquerda, curiosamente, constituindo uma excepção ao que tem acontecido na Europa desenvolvida e moderna.
Traço um cenário muito negro do desempenho do Partido Social Democrata, em 2006. Sem me querer alongar muito, não é normal o que tem acontecido na príncipal Câmara do país, tendo-se gerado uma grande crise governativa quando Marques Mendes, lider do Partido, resolveu intervir no trabalho do Presidente da C.M.L., Carmona Rodrigues. Além disso, a actuação de Paula Teixeira da Cruz tem prejudicado muito a maioria dos social-democratas e dos lisboetas. Assim, com um péssimo desempenho dos líderes do Partido e da Distrital, as críticas têm vindo a crescer, de vários lados, dos quais se destacam, sem dúvida, Morais Sarmento, Luis Filipe Menezes e Helena Lopes da Costa, além de Rui Rio, que já mostrou estar em desacordo com alguns comportamentos adoptados por Mendes. O partido está cada vez mais dividido e para isso nem sequer contou com qualquer palavra de Pedro Santana Lopes que, com certeza, pedirá explicações aos líderes que referi dentro de pouco tempo, devido à intenção de Carmona Rodrigues de homenagear, com uma medalha de ouro da cidade, o ex-Presidente da República Jorge Sampaio, responsável pela dissolução da Assembleia da República com maioria social-democrata e, consequentemente, pela queda do governo.
Mas se os desempenhos de Marques Mendes e de Paula Teixeira da Cruz têm sido péssimos, a mudança da direcção da CPS de Algés e o almoço-comício em Vila Nova de Gaia, onde mais de 3 mil pessoas se reuniram para criticar o governo de Sócrates, foram, sem dúvida, dois sinais de esperança na mudança que o país tem de ter.
No que diz respeito ao desporto, sobretudo ao futebol, que é para onde se vira a atenção da maior parte dos portugueses, a situação não dá para grandes sorrisos. Em Portugal, o campeonato parece, já, decidido, com o Porto campeão, mas na sombra de uma ex-prostituta que acusa o Presidente dos dragões de vários crimes. Além disso, a situação fincanceira dos azuis e brancos é alarmante, tendo tido um prejuizo a rondar os 30 milhões de euros. Além do FC Porto, também o Benfica vê o seu Presidente arguido no caso "Mantorras" e o seu ex-Presidente da S.A.D. estar envolvido em vários processos. O Sporting foi afastado das competições europeias e apenas o Braga, que considero um outsider, parece estar melhor, não apresentando, aparentemente, qualquer problema financeiro, mantendo-se na Taça Uefa e na luta por um lugar na Liga dos Campeões para a próxima temporada.
Falando dos portugueses que resolveram "emigrar" para outros campeonatos, apenas Cristiano Ronaldo se tem destacado, sendo, neste momento, o melhor marcador do primeiro classificado da Premier League. Além do nº7 dos Red Devils, Tiago e o naturalizado Deco continuam no topo. Sublinho também o facto de José Peseiro treinar o primeiro classificado da Liga Saudita, de futebol. Contudo, o grande símbolo do futebol português, José Mourinho, acaba este ano na mó de baixo. Sim, porque estar em 2ºlugar, como todos sabemos, para Mourinho, é estar muito em baixo.
A selecção, após um excelente Campeonato do Mundo, onde alcançou um honroso 4ºlugar, ainda não realizou sequer uma única exibição de bom nível, na Qualificação para o Euro2008.
Há, contudo, uma nota que é importante salientar. Apesar também do Caso Mateus, do qual não nos podemos esquecer, a Liga tem uma nova Direcção, encabeçada por Hermínio Loureiro e parece-me trazer novas e boas ideias, como a Taça da Liga, que será muito útil para os clubes, na medida em que lhes dá mais competição, mais assistências e, em princípio, mais receitas.
Ligado ao desporto e à política, lembramo-nos logo do caso do "Apito Dourado". Pois é, passou um ano e não há grandes desenvolvimentos neste caso, como em muitos outros, como o da "Casa Pia". Além desses, "Camarate" prescreveu e dias depois soubemos que, afinal de contas, foi mesmo atentado.
Resumidamente, foi assim 2006.
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