quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Esperança no futuro

Pois é, vem aí um novo ano, que vai ficar marcado, historicamente, entre outras coisas, pela decisão dos portugueses na questão do aborto.

2006 acaba agora e eu faço um balanço negativo deste ano, do ponto de vista político, jurídico, desportivo, entre outros. No entanto, não quero dizer que foi um ano em que tudo correu mal. Não. A selecção portuguesa fez um excelente Campeonato do Mundo de futebol, alcançando um honroso quarto lugar. Portugal tem, pela primeira vez, um Presidente da República de centro-direita. Contudo, se foi um ano mau, na minha opinião, deixou-nos claros sinais de esperança num futuro melhor, embora, na generalidade, tudo o que estava mau continuou mau e uma boa, ou significativa, parte das coisas boas pioraram.

Ora vejamos, 2006 trouxe-nos um novo Presidente da República, mas esse acontecimento, por si só, não pode mudar grande coisa. O governo continua a propagandear a sua actuação, sem alcançar grandes resultados. Por exemplo, na saúde, apesar de se estarem a fechar vários hospitais, o número de pessoas em lista de espera diminuiu. Pouco, mas diminuiu. No entanto, com a possível despenalização da interrupção voluntária da gravidez nas dez primeiras semanas, a que eu chamo liberalização do aborto no referido prazo, as listas de espera poderão agravar-se. O governo tem estado a "cortar" em todo o lado, "apertando" com tudo e com todos, muitas vezes à custa dos tais impostos que prometera não aumentar. O que aumentou foi o desemprego, a violência e o desespero das pessoas face ao governo e face à oposição, sobretudo com os partidos de centro e de direita. É que quando o governo é incoerente, dizendo e defendendo umas coisas e fazendo, exactamente, o contrário, pede-se à oposição que, no fundo, faça oposição. Mas o PSD faz o mesmo que o governo socialista tem feito e o CDS, também ele, muito dividido, parece demasiado monótono. Por isso e por vários outros factos, dos quais, de resto, tenho vindo a falar, quem sobe nas sondagens são os partidos de extrema esquerda, curiosamente, constituindo uma excepção ao que tem acontecido na Europa desenvolvida e moderna.

Traço um cenário muito negro do desempenho do Partido Social Democrata, em 2006. Sem me querer alongar muito, não é normal o que tem acontecido na príncipal Câmara do país, tendo-se gerado uma grande crise governativa quando Marques Mendes, lider do Partido, resolveu intervir no trabalho do Presidente da C.M.L., Carmona Rodrigues. Além disso, a actuação de Paula Teixeira da Cruz tem prejudicado muito a maioria dos social-democratas e dos lisboetas. Assim, com um péssimo desempenho dos líderes do Partido e da Distrital, as críticas têm vindo a crescer, de vários lados, dos quais se destacam, sem dúvida, Morais Sarmento, Luis Filipe Menezes e Helena Lopes da Costa, além de Rui Rio, que já mostrou estar em desacordo com alguns comportamentos adoptados por Mendes. O partido está cada vez mais dividido e para isso nem sequer contou com qualquer palavra de Pedro Santana Lopes que, com certeza, pedirá explicações aos líderes que referi dentro de pouco tempo, devido à intenção de Carmona Rodrigues de homenagear, com uma medalha de ouro da cidade, o ex-Presidente da República Jorge Sampaio, responsável pela dissolução da Assembleia da República com maioria social-democrata e, consequentemente, pela queda do governo.

Mas se os desempenhos de Marques Mendes e de Paula Teixeira da Cruz têm sido péssimos, a mudança da direcção da CPS de Algés e o almoço-comício em Vila Nova de Gaia, onde mais de 3 mil pessoas se reuniram para criticar o governo de Sócrates, foram, sem dúvida, dois sinais de esperança na mudança que o país tem de ter.

No que diz respeito ao desporto, sobretudo ao futebol, que é para onde se vira a atenção da maior parte dos portugueses, a situação não dá para grandes sorrisos. Em Portugal, o campeonato parece, já, decidido, com o Porto campeão, mas na sombra de uma ex-prostituta que acusa o Presidente dos dragões de vários crimes. Além disso, a situação fincanceira dos azuis e brancos é alarmante, tendo tido um prejuizo a rondar os 30 milhões de euros. Além do FC Porto, também o Benfica vê o seu Presidente arguido no caso "Mantorras" e o seu ex-Presidente da S.A.D. estar envolvido em vários processos. O Sporting foi afastado das competições europeias e apenas o Braga, que considero um outsider, parece estar melhor, não apresentando, aparentemente, qualquer problema financeiro, mantendo-se na Taça Uefa e na luta por um lugar na Liga dos Campeões para a próxima temporada.

Falando dos portugueses que resolveram "emigrar" para outros campeonatos, apenas Cristiano Ronaldo se tem destacado, sendo, neste momento, o melhor marcador do primeiro classificado da Premier League. Além do nº7 dos Red Devils, Tiago e o naturalizado Deco continuam no topo. Sublinho também o facto de José Peseiro treinar o primeiro classificado da Liga Saudita, de futebol. Contudo, o grande símbolo do futebol português, José Mourinho, acaba este ano na mó de baixo. Sim, porque estar em 2ºlugar, como todos sabemos, para Mourinho, é estar muito em baixo.

A selecção, após um excelente Campeonato do Mundo, onde alcançou um honroso 4ºlugar, ainda não realizou sequer uma única exibição de bom nível, na Qualificação para o Euro2008.

Há, contudo, uma nota que é importante salientar. Apesar também do Caso Mateus, do qual não nos podemos esquecer, a Liga tem uma nova Direcção, encabeçada por Hermínio Loureiro e parece-me trazer novas e boas ideias, como a Taça da Liga, que será muito útil para os clubes, na medida em que lhes dá mais competição, mais assistências e, em princípio, mais receitas.

Ligado ao desporto e à política, lembramo-nos logo do caso do "Apito Dourado". Pois é, passou um ano e não há grandes desenvolvimentos neste caso, como em muitos outros, como o da "Casa Pia". Além desses, "Camarate" prescreveu e dias depois soubemos que, afinal de contas, foi mesmo atentado.

Resumidamente, foi assim 2006.

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