sábado, 20 de fevereiro de 2010

A brincar, a brincar...

Conforme tinha combinado e dito no post anterior, voltei, à tarde, à esquadra. Apresentei, finalmente (e porque tinha disponibilidade), a queixa a um bem-disposto polícia benfiquista. Enquanto fiz a queixa, o polícia, apenas acompanhado por um colega, recebeu, por telefone, um alerta de um munícipe oeirense.
Esse munícipe, residente num quarto andar de uma rua deste concelho, pedia que a polícia, de uma forma rápida, se dirigisse até ao local, dado que um grupo de pessoas tentou entrar pelo prédio (creio que era o nº83 da Rua Agostinho Neto) adentro.
A polícia não foi até ao local. Porque o senhor que ligou para a esquadra não era o administrador do condomínio.
O munícipe pediu, então, para que ligassem para o administrador, pedido que foi imediatamente indeferido.
Lembrei-me, logo, de uma história que se passou, penso eu que já neste mês de Fevereiro, num prédio próximo do “meu”. A porteira desse prédio estava em casa quando algumas pessoas tentaram entrar em sua casa, com aquela “táctica” dos cartões. Ela ligou para a esquadra, que é a menos de um quilómetro de sua casa. A polícia demorou 45 minutos a chegar. Por sorte, ela estava em casa. Por sorte, tinha a porta trancada. Por sorte, os ladrões foram embora. E tiveram sorte de não terem sido apanhados, porventura em flagrante…
Poderia ter acontecido o mesmo ao morador de um 4ºandar do prédio onde um grupo de ladrões tentou entrar. Bastava que tivessem continuado a tentar. Basta que tivessem conseguido entrar. Porque, a menos que o administrador do condomínio ligasse para a polícia, esta não poderia sequer levantar o rabo daquelas já gastas cadeiras da sala da esquadra.
Poderá, quem estiver a ler este texto, pensar que estou a dizer, nesta sequência de factos (verdadeiros), que a polícia é incompetente. Mas não creio que seja. Muito devemos nós aos que, colocando a sua vida em perigo, nos tentam garantir a segurança a todos.
Existem dois problemas, claramente identificáveis na narração desta pequena história. O primeiro é a falta de meios. O segundo é a legislação. Poderá existir um terceiro, que é a preguiça. Mas, em todas as profissões, existe sempre uma série de pessoas preguiçosas.
A falta de meios tanto impede a polícia de impedir um crime, como de deter quem o praticou, de tomar a ocorrência dele, ou de uma tentativa.
A legislação tem sido, justamente, muitíssimo discutida. O polícia, para poder agir (da melhor forma para garantir os direitos dos cidadãos e aplicar a “justiça no terreno”), não deve estar à espera de um telefonema de determinada pessoa. Como, noutras situações, não pode ter, num determinado momento, motivos legais que o impeçam de preservar da melhor maneira possível o direito que mais interesse salvaguardar.
A conclusão que se tira é que a falta de segurança sentida por uma parte cada vez mais significativa de cidadãos tem uma dupla causalidade: a legislação e a falta de meios causam a perda da autoridade por parte da polícia, enquanto esta, por seu turno, é a causa do sentimento de insegurança por parte dos cidadãos.
E é assim, a brincar, a brincar que vamos percebendo que a incompetência não está na polícia, não está nos polícias.
A incompetência é daqueles que, em vez de canalizarem os recursos financeiros do Estado para a garantia de direitos essenciais dos cidadãos, decidem que o Estado esbanje o dinheiro público (o que tem e o que não tem) em obras faraónicas, supérfluas, desnecessárias. Por causa deles, a polícia não tem meios.
Foram também incompetentes aqueles que, por não terem feito os estudos necessários para este tipo de matérias, retiraram a autoridade à polícia, tendo mão leve com aqueles que desrespeitam a lei, nomeadamente a lei penal.
O Estado tem falhado muito, de forma inconcebível, neste domínio.
Para me dirigir mais directamente a si, que está a ler este texto, resta-me desejar-lhe duas coisas.
Em primeiro lugar, desejo que não tenha problemas e que não precise da polícia.
Em segundo, no caso de estar, no futuro, perante uma situação em que precise mesmo da intervenção da polícia, só me resta fazer um último desejo, que se resume a duas palavras: boa sorte.

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