terça-feira, 16 de novembro de 2010

O caminho

Crónica escrita por mim e publicada no site Sporting Apoio.


Escrevo porque me chateia a insistência em referir os problemas, em vez de se procurarem e discutirem as soluções.

Vulgarizou-se, recentemente, a ideia de que o Sporting está condicionado ao seu passivo.

Pensa-se que o Sporting, apesar de ter a melhor academia de futebol da Europa, de lançar os melhores jogadores do mundo, de ter um estádio com as cinco estrelas da UEFA, vive mal por causa do passivo que resultou desse investimento.

Eu não penso dessa maneira. Não havia alternativa quando, há já mais de uma década, foi apresentado um projecto para a construção de um novo estádio que viesse substituir o antigo, que já não oferecia condições de segurança.

Terá sido desse projecto sportinguista que o Governo português, aliado com a Federação Portuguesa de Futebol, resolveu promover a construção de vários outros estádios de modo a organizar um Campeonato da Europa como recompensa a uma geração de ouro do futebol português.

O Sporting fez bem em construir um novo estádio. Não havia sequer outra alternativa.

Mas, sendo o Sporting um clube vocacionado para a formação dos melhores jogadores de futebol do mundo, aproveitou-se essa década de investimento para construir uma das melhores academias do mundo, para melhorar as condições de trabalho das suas grandes promessas.

Fez-se bem.

Mas desses dois investimentos resultou a grande parte do passivo do Sporting. Foi essa a via escolhida pelos sócios. E, creio eu, foi escolhida a via certa.

O problema do Sporting não está, porém, no seu passivo. Porque o passivo corresponde a uma modernização e profissionalização do clube. O problema é que a esse investimento de modernização e profissionalização, estendido recentemente à gestão financeira e, digamos assim, administrativa do clube não se juntou a profissionalização da gestão desportiva.

Ou seja, o Sporting tem todas as condições materiais para competir de igual para igual com os melhores clubes do mundo. Tem jogadores profissionais e um Presidente que faz da presidência do clube a sua profissão.

Falta a profissionalização da gestão desportiva que, para colher frutos, terá de estar ao nível de tudo o que falei até aqui.

O Sporting precisa de um director-desportivo profissional de grande nomeada. Daí que defenda, por exemplo, a hipótese Luís Figo.

A gestão desportiva do futebol profissional do Sporting não tem estratégia. Não é completa, porque se resume à autoridade de um homem só. E não joga nos bastidores, não se sente que haja ali nenhuma equipa, capaz de sonhar alto, de jogar com a sua influência e de pensar a médio e longo prazo.

Esta gestão desportiva vende as coqueluches e vai buscar jogadores em fim da linha, amigalhaços e reservas de outros clubes. Isso não serve. E destrói todo o trabalho e todo o investimento que está por trás do Rui Patrício, do Daniel Carriço, do Cedric Soares, do André Santos, do Yannick Djaló, entre outros.

Porque tem sido assim a gestão desportiva do futebol, o Sporting soma prejuízos, perdeu a sua identidade centenária e a sua veia devoradora de títulos.

Penso eu, contrariamente à generalidade das pessoas, que o Sporting não se caracteriza pela palavra passivo, mas pela palavra “refugo”. É isso que mostra a grande monstra desportiva do clube. E é aí que reside o problema central do clube.

Voltando atrás, o Sporting, apesar do investimento feito na sua profissionalização, caminha numa estrada que o leva a um perigoso precipício. O estádio não foi feito para estar vazio. E a academia não foi feita para formar atletas que, desmoralizados pela falta de sonho e profissionalismo da gestão do futebol, reforçam os nossos rivais ou saem a troco de meia dúzia de trocos.

O investimento que foi feito não tem tido retorno, porque só foi feito em metade. Falta o essencial. Investir num grande director-desportivo e numa estrutura de futebol fortíssima, que possa trazer um grande treinador e grandes jogadores de futebol.

Se assim for, a academia vai render muito dinheiro, o estádio vai estar cheio, as pessoas vão comprar o merchadising do Clube. O investimento terá retorno e não será necessário nenhum milionário árabe ou chinês para conseguir salvar, desapaixonadamente, aquele que é o amor comum de todos nós, sportinguistas.

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