quarta-feira, 6 de abril de 2011

O ataque aos agricultores


No princípio desta semana, uma pessoa com importantes responsabilidades no Estado Português aconselhou os desempregados a dedicarem-se à agricultura.
Ora, esta afirmação, semelhante à que se utiliza nos fracassos - "se não és bom nisso, dedica-te à pesca!" - é rigorosamente anedótica.
Anedótica porque não houve Governo, nos últimos cinquenta (ou cento e cinquenta anos, como quiserem!), que tenha feito tanto contra os agricultores e contra a agricultura em Portugal.
Mais do que as burocracias injustificáveis que impôs, mais do que a falta de promoção do consumo do produto nacional, este Governo (e o anterior) estrangulou completamente o sector. Fê-lo porque não teve sensibilidade para as preocupações que sucessivamente foram sublinhadas por quem se dedica a esta actividade.
Tinham a obrigação, os socialistas, de fazer muito mais e muito melhor, nomeadamente no que toca à aplicação, distribuição e fiscalização dos fundos comunitários, onde houve manifestamente um desperdício, cujo exemplo flagrante respeita aos incentivos aos novos agricultores, grande parte deles distribuídos injustificadamente a quem, apercebendo-se da facilidade da regulamentação, e de um modo semelhante ao que aconteceu com o rendimento social de inserção, se aproveitou de milhares de euros que, aplicados de outra forma, poderiam ter sido muito úteis aos agricultores, que, neste momento, têm de pagar para trabalhar (veja-se, por exemplo, a situação dos produtores de leite).
Além das burocracias, da falta de promoção do produto português, do desperdício milionário de fundos comunitários, este Governo complementou uma política de destruição daquilo que restava da agricultura com um centralismo que fez com que se abandonassem as povoações agrícolas.
Na Chamusca, por exemplo, a polícia não tem autoridade para proteger os agricultores e os criadores de gado por manifesta falta de meios. Aliás, e para não ir mais longe, nesse local e no passado fim-de-semana, foi furtado um poldro castanho com três anos de idade de um criador e foram ocupadas umas terras com alguns hectares de outro criador, que precisava do terreno para pastagem e se vê, agora, impedido de o utilizar porque o terreno foi ocupado por umas ovelhas.
A polícia tem medo de agir, porque foi ameaçada de represálias.
A lei só tem servido para apertar. Porque quando o agricultor precisa da força da lei para proteger aquilo que é seu, a lei não se cumpre. E o agricultor está entregue a si próprio, restando-lhe apelar à Fé Divina para que possa ter Justiça.
Tudo isto para sublinhar o insólito da declaração a que me referi na primeira frase deste texto. Este Governo destruiu completamente a agricultura, e fê-lo de todas as maneiras possíveis.
Pelo sim, pelo não, o melhor, para os desempregados, é dedicarem-se a outro tipo de actividade e continuarem a enaltecer o esforço de quem é responsável por que tenhamos ainda, à mesa, os ovos, a carne, os legumes, a fruta, o leite, etc.!
Aproveito ainda para fazer um último apelo, ainda neste contexto.
Se gostam de Portugal, se querem manter empregos ou voltar a criar mais emprego na actividade agrícola, se querem recompensar os agricultores pelo esforço patriótico que têm feito ao longo de séculos, e se não podem, através do Poder Central, agir para os ajudar, façam "acção directa": prefiram o que é produzido nas nossas terras, por vossos compatriotas.
Consumam sempre o que é português.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro António,

percebo, como percebo...
Sou agricultor, filho e neto de agricultores, sinto essas palavras. Há mais de 20 anos que não temos uma politica agricola nacional, mas os ultimos 6 anos foram um desastre total. Portugal tem produtos de excelência. É urgente que os governantes se sentem à mesma mesa com produção, industria e destribuição. Temos que criar fileiras de produto e promover/vender os nossos produtos. Carne argentina e brasileira, DESAFIO as pessoas a provarem as nossas raças autocnes de carne e depois digam qual a melhor. Horticulas - temos excelentes produtores, ora no Oeste que abastece LEVT, ora na Póvoa de varzim, que abastece o Grande Porto. Vinho, as nossas potencialidades são enormes. Leite, produzimos o suficiente para as nossas necessidades. Ainda assim, uma grande percentagem de sub-produtos do leite são feitos com leite e marcas de fora! Este sector, foi durante anos tido como exemplo da agricultura nacional, agora esta quase falido...Sabiam que é a região de douro e minho que produz mais leite em Portugal (incluindo açores)? Floricultura - um sector que esta crescer e que temos um clima muito competitivo para esta cultura. Floresta, aqui, as nossas potencialidades são enormes. Isto já vai longo, mas, cortiça, azeite, o nosso cavalo lusitano, criação de gado bovino/caprino e ovino,....Revolta saber que temos matéria prima, temos bom clima, temos um solo que dá para trabalhar, ainda temos alguns(poucos) que querem viver e trabalhar da terra, mas não temos uma politica nacional para todo sector! Ainda por cima, é só o sector que todos, mesmo todos, estamos dependentes para COMER!!
Cumprimentos,

Idalino Leão