segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Registamos.


Ao longo dos últimos dez anos, fui a estádios de futebol, pelo menos, duas vezes por mês. Logo aos domingos, corria para a televisão depois de jantar, para poder ver as repetições e as análises. As discussões e os comentários eram impossíveis de perder às segundas-feiras. Comprava os jornais, ia aos sites desportivos, enfim, tinha uma série de hábitos que, independentemente do resultado que o meu Sporting tivesse tido nesse fim-de-semana, faziam parte da minha rotina.
Faz já algum tempo que não vou a um estádio, que não vejo o que se diz nos jornais, que não perco as noites das minhas segundas-feiras a ouvir a já cansativa cantiga dos dois contra um. Alguns dos jogos já prefiro nem ver. Por causa dos relatos. Que são fracos, que são tendenciosos, que são um convite a mudar de canal.
O bichinho, que ainda existe e sempre existirá, vai sendo alimentado com o sportinguismo, que é também um ideal que se vive a cada dia, e com os jogos do Real Madrid. E tão bem que soube aqueles dois confrontos entre Barça e Real, com uma realização televisiva do melhor que alguma vez já houve, comentado (para os portugueses) pelo Freitas Lobo. Isso sim. Isso é futebol.
No que toca à forma como se aborda o futebol, não há nada melhor que o comentário de Freitas Lobo e a análise de André Pipa. Os outros, e se me escapa algum, peço que me perdoe, são personagens. Personagens. Nunca provaram nada. Não sabem nada. São rancorosos e pequenos. São parciais. E, para dizer qual é a chave do Euromilhões depois do jogo, que é o que parte deles fazem, vejo a Marisa Cruz. E que bem que ela diz os números! E tenho a certeza que, com apenas 2 euros, ao domingo à noite, era de caras que ganhava a sorte grande da sexta-feira anterior.
Sobre o Sporting, que é o que a mim me interessa, confesso que já estive preocupado. Já não estou. Agora pensamos pela nossa cabeça, indiferentes ao que dizem (e tanto dizem agora) sobre nós. Tem sido feito um esforço notável. De todos. Desde o Presidente ao roupeiro, passando, sobretudo, pelo treinador e pelos jogadores. Não tenho dúvidas nenhumas de que será com grande parte destes jogadores que, brevemente, seremos campeões nacionais. Agora estão em baixo. E não há mal nisso. Faz parte. Uns estão em baixo, outros estão em cima. E não conheço ninguém que tenha estado sempre em baixo, nem sempre em cima.
Não queremos mudar nada. Vamos continuar a seguir este caminho e, com a mesma persistência, a motivação irá voltar e, com ela, as vitórias. Não há nada que, sendo maravilhoso, tenha sido feito de um dia para o outro.
A única coisa que me preocupa é a questão financeira, que aqui irei abordar em breve, quando surgirem mais dados. Posso, contudo, começar por dizer que o Sporting é dos sócios. O Sporting são os sócios. Somos, de certa forma, os herdeiros de José de Alvalade e dos restantes fundadores. Mas nada disso, do meu ponto de vista, é posto em causa com a entrada de capital estrangeiro.
Mas voltando ao essencial do texto, que é o afastamento do futebol, não podia deixar de repudiar o nível, baixo e deseducado, com que profissionais que deviam ser responsáveis têm abordado o Sporting. Com as derrotas e os empates, voltámos a ser capa de jornal. Com a auditoria, também. Mas nós nada escondemos. E temos memória. E não a podemos perder. Não vamos esquecer o que nos têm feito, o que têm dito de nós. Não vamos esquecer quem fez, nem quem disse. E este campeonato está cheio de histórias: desde a recusa dos árbitros às reportagens sobre os túneis. 
Também não vamos esquecer a forma como se ocultou. Com essas ocultações, construíram-se mentiras. Que, repetidas mil vezes, continuam a ser mentiras. Só neste fim-de-semana, como demonstram as imagens, o árbitro viu um penalty numa falta fora de área (que já vai sendo habitual na Taça da Liga), mas não viu outro dentro da área. Com isso, o Sporting foi afastado da Taça (que ninguém) Liga. E ninguém disse isso. Desde os comentadores da SIC, que se mostraram favoráveis às decisões do árbitro, aos analistas de meia tigela. É assim connosco. E é bem diferente com os nossos rivais. Com sentido de humor, ironia e verdade, falou o treinador do Feirense (que perdeu 1-2 num jogo que poderia, pelo menos num determinado momento, estar 2-0 a seu favor). Este fim-de-semana falou o Luís Olim do Marítimo, que disse, logo depois do jogo contra o Benfica, que "o importante é que o Benfica venceu e o povo português está feliz. Esta semana vai ser produtiva e o povo vai esquecer que não terá tolerância de ponto no Carnaval".
O conforto que tenho, não indo ao estádio, não vendo as análises, não assistindo aos comentários, não lendo os jornais, prende-se exactamente com algo que, excepcionalmente, não nos podem tirar: a memória, de que falei. Temo-la. E, mesmo não vendo o Sporting pronunciar-se sobre nada, é com gozo e conforto de que sinto que estamos, todos, a registar tudo. 
Agora, há uma coisa que tem de ser certa: depois do ensurdecedor silêncio das nossas palavras, a memória terá de servir para alguma coisa...

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