terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A seca e a crise, porque um mal nunca vem só


Nas eleições do ano passado, a ideia de construir um país que se voltasse a virar para o mar e a apostar estrategicamente na agricultura foi quase unânime entre os partidos. Estavam, porventura, embalados por um conjunto de iniciativas dos privados com forte impacto junto de cada português, tendo-se publicitado com sucesso a ideia de que devemos consumir o que é nosso.
Com a crise no sector do leite, cujo preço de revenda em alguns hipermercados é inferior ao preço com que o leite é vendido no produtor, seria natural que houvesse, na Assembleia, um debate muito sério que se comprometesse a encontrar soluções para os produtores de leite portugueses. Esse debate ainda está para vir. 
Entretanto, e a somar-se a uma crise com precedentes distantes, veio uma seca que tem arruinado a agricultura, nas suas três vertentes, de norte a sul do país. No que respeita ao sector agro-pecuário, temos visto hipermercados a anunciar que o porco está ao preço do frango e que a vaca está ao preço do porco. 
É natural que os consumidores prefiram o barato. Mas o preço da água, da electricidade e dos combustíveis subiu. As sementes não desenvolveram com esta seca. O feno e a palha, que já não há em Portugal e são importados de Espanha e França, estão demasiadamente caros. E as rações, para o sector agro-pecuário, estão caras, nem que seja devido ao suporte inicial do IVA.
Se é fácil, para o português comum, compreender que é difícil que um pequeno agricultor consiga o retorno mínimo esperado numa altura em que investiu as suas economias para, por força de uma seca extrema, nada conseguir colher, não se percebe como é que esta situação ainda não chegou à Assembleia da República.
Numa altura em que se tem discutido o problema do desemprego, não se consegue perceber como é que os deputados ainda não anteviram que, para reduzir custos e conseguir um mínimo de retorno nesta altura de seca, algumas das grandes sociedades agrícolas vão ser forçadas a despedir pessoas, aumentando o flagelo do desemprego.
O que se realça é que esta omissão, por parte dos deputados, é partilhada por todos os partidos que, como sempre, só discutirão os problemas depois de consumados os resultados da omissão de medidas de apoio aos agricultores portugueses, o que nos dá uma ideia de que, em vez de estarem a discutir opções estratégicas para o crescimento da economia portuguesa e para o desenvolvimento económico, os deputados continuam distantes dos problemas reais do país, a brincar continuamente ao Carnaval.
Depois do tempo das vacas magras, chegámos ao tempo das vacas mortas. Mas os deputados só se vão aperceber disso quando chegarem a um hipermercado e não encontrarem um produto português. Nessa altura, chamam o empregado que talvez lhe tenha de dizer que, se quer um produto português, pois, senhor Deputado, agora coma pedras.

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