quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Lá vai Lisboa...


Disse João Almeida, um dia, no Congresso do CDS/PP, que o seu Partido não poderia ser “o partido dos uns contra os outros, nem de uns, nem de outros”. Há alguns meses, eu dizia que o PSD era visto, pelos portugueses, como o Partido dos uns contra os outros. Hoje, após uma evolução gradual, podemos dizer que o PSD entrou numa outra fase: é o PSD dos outros. De Marques Mendes e de Paula Teixeira da Cruz. Há muitos outros nomes, dos quais, de resto, falei aquando das eleições para a CPS de Algés, por exemplo, mas são estes os dois nomes principais.

O clima que se vive no PSD é aterrorizador, mas o que me preocupa é que a instabilidade não vem de Luís Filipe Menezes, nem de qualquer outro “opositor” interno. Quem cria a instabilidade são os próprios líderes. Digo mais: se Menezes ou até Santana Lopes se pronunciassem publicamente, de uma forma constante, sobre as atitudes de Mendes, sem dúvida que este há muito teria caído. Hoje, uma coisa é certa: Mendes nunca vai ser primeiro-ministro. Como tal, se o PSD é um Partido que quer formar governo, tem de mudar o seu rumo, seja de que maneira for.

Eu não queria perder muito tempo a falar de factos, pois todos sabemos o que aconteceu na Câmara de Lisboa. Vemos todos os dias as notícias. Mas há duas ou três coisas que eu queria realçar, pois julgo ser aí que reside o problema de fundo da Câmara e do Partido.

Quis Marques Mendes trazer, para o Partido, um discurso da credibilidade, que se até tornou muito cansativo, visto que parecia que o PSD apenas se preocupava em trazer credibilidade para o Partido, problema que não conseguia resolver e não apresentando solução para melhorar outros aspectos. Quis o destino (que é tramado, às vezes!) que o discurso se voltasse um dia contra o líder. Sublinho este facto porque desde que abri este espaço de discussão que critico Marques Mendes por ser diferente no discurso e no comportamento.

Pois é, primeiro foi público que Mendes e Teixeira da Cruz foram os grandes protagonistas da ruptura da coligação que governava a capital, facto que trouxe, pela primeira vez, uma grande instabilidade para a CML. De resto, desde aí que se fala em eleições antecipadas.

Mais tarde, Gabriela Seara foi constituída arguida num negócio duvidoso entre a Câmara e a Bragaparques. Se a Direcção do Partido quisesse ser coerente, teria de retirar a confiança política a Gabriela Seara, que foi uma peça vital na campanha e na escolha da composição da Câmara. Seria injusto, incorrecto, mas era o possível para manter alguma dignidade, pouca mas é melhor que nada, à direcção nacional e distrital do Partido. Este facto realça, desde logo, alguma “menoridade” aos actuais lideres do PSD, porque se preocuparam, exclusivamente, com a imagem do Partido, não pensando na estabilidade da governação de Lisboa.

Para piorar as coisas, Fontão de Carvalho escondeu a todos que era arguido num outro processo. Carmona correu logo para a Lapa, local onde se situa a Sede do PSD, para discutir o que fazer. Porém, houve tempo para Carmona dizer que a direcção do Partido mantinha a confiança no Presidente e no Vereador da Câmara de Lisboa. Fontão disse que se mantinha no cargo para o qual “orgulhosamente” havia sido eleito. No dia seguinte, Fontão voltou atrás na posição que tinha, dizendo contudo que não tinha tido qualquer pressão para o fazer. Como é possível, pergunto eu, uma pessoa mudar de um dia para o outro de posição, sem que tenha havido uma pressão para o fazer? Estranho. Contudo, suspendeu o mandato. Carmona manteve-se, mas a Câmara parece estar instável e por um fio.

Entristece-me, muito, que as decisões camarárias não sejam tomadas nos Paços do Conselho, mas na Sede do PSD. Entristece-me, muito, que quem governe a Câmara não seja quem foi eleito para o fazer, mas os líderes que o apoiaram. Sim, porque é certo que quem governa a Câmara de Lisboa são Marques Mendes e Paula Teixeira da Cruz.

Gostava apenas de salientar uma última opinião pessoal que tenho acerca de uma injustiça que está a ser feita para com uma pessoa. Falo de Carmona Rodrigues, porque não tenho dúvidas de que nestes dias, o mesmo deve estar muitíssimo arrependido de ter aceite o convite da direcção do PSD. A culpa não é de Carmona ter ou não capacidades para gerir uma Câmara (quanto mais a capital do país!), mas de quem o escolheu. O PSD não deixou Carmona governar, à sua maneira, a Câmara. Nunca deixou que Carmona tivesse a seu lado quem, de faço, queria. Assim, uma coisa é certa: nunca vamos saber se Carmona Rodrigues seria ou não um bom Presidente de Câmara. Simplesmente, porque não o deixaram. Desde o princípio.

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