quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A ferida!



Mais tarde ou mais cedo, o país irá debater os seus problemas estruturais e irá pôr em causa os partidos políticos existentes. Fá-lo-á por uma razão simples. Se essa discussão não for feita, o país continuará permanentemente a viver em crise e a remediar o que tem, de uma vez por todas, de ser corrigido.
Comecemos pelos partidos. Pelos dois maiores partidos, porque são, os dois, e em conjunto, os principais responsáveis pela conjuntura nacional, que não é de agora, nem de ontem e também não vai acabar amanhã, ao contrário do que esses partidos vão dizendo.
Parece-me evidente que o PS, tendo governado quase ininterruptamente desde 1995, é o responsável número um pela estagnação. O PS é o partido de todos. Assegura saúde financeira a muitas, e demasiadas, famílias, que encontraram um lugar tranquilo no Estado.
Mas o PS, ao longo destes quinze anos, foi mais longe. Entrou pelo privado, nas empresas, nas construtoras, na comunicação social, na banca…entrou no mundo dos negócios.
Neste momento, os tachos impedem a tomada de medidas. No sector público, quantos são os tachos que não geram riqueza ao Estado? No sector privado, como pode um Primeiro-Ministro que é amigo do administrador da construtora, dizer-lhe que a sua empresa vai deixar de receber largos milhões de euros por uma questão de interesse nacional?
Quem é que, neste momento, em Portugal, se move pelo interesse nacional? Quem põe o interesse público à frente de um bom negócio, de uma boa amizade, do interesse político e da garantia de votos nas próximas eleições?
Sobre a estagnação, a pergunta deve ser feita ao contrário: como pode, nestas circunstâncias, o país deixar de estar estagnado?
Enquanto houver PS, ou enquanto houver este PS, não é possível que o país cresça.
Há uma solução óbvia para acabar com este problema, que passa por dar, a outro partido, uma maioria absoluta estável e duradoura, de modo a poder fazer a necessária “limpeza geral”.
A contrariedade é que o PS, nessa lógica corporativista, e os amigos do PS somam muitos votos. Ainda assim, uma votação massiva num partido alternativo continuaria a ser possível.
Sendo sensato, o partido alternativo de Governo é o PSD. E, não deixando a sensatez com que me exprimi na frase anterior, o PSD é, e tem sido, um partido demasiado partido, com demasiadas tendências e inimizades. Aqui não há quem se entenda ou, pelo menos, que se entenda durante o tempo necessário para ganhar eleições.
Voltando às perguntas, aqui deixo mais duas. Quantos partidos há no PSD? O PSD, tal como está, partido, fará sentido?
Muita gente, com coragem, tem dito que não. Que a mudança para o país passa também por uma nova configuração do centro-direita em Portugal. Mas no PSD também há interesses por salvaguardar. E, tornando-se oficialmente partido em partidos, quem ficava a ganhar era o PS. O PS e também este conformismo derrotista que assola as ruas do país.
Muitos portugueses, (pelo menos) nos últimos quinze anos, colocaram, a si próprios, as interrogações que acima fiz. Muitos abstiveram-se. Muitos votaram em branco. Muitos optaram por terceiras vias, como forma de protesto. Alguns, ainda assim, votaram no PSD. Mas o que é certo é que, só levando em conta as votações nos dois maiores partidos, o PS ficou sempre ganhar.
Poderemos, precipitadamente, pensar que encontramos aqui uma conclusão rápida: os portugueses preferiram uma imagem de unidade. Também preferiram. E sem dúvida que isso pesou. Mas há outra coisa que tem afastado os portugueses do PSD, que é aquilo a que muitos chamam de aparelho. Não falo, aqui, de quem se move por convicções. Falo do pior do aparelho. Que torna o PSD num partido constantemente em guerra. O corporativismo e egoísmo de alguns grupos militantes, que impede a estabilidade no partido, têm sido o maior aliado dos socialistas e o maior inimigo do país.
Eu sei que há tendências diferentes em todos os partidos, não só em Portugal, mas por todo o mundo. E também há, fora de Portugal, tendências em partidos cujos interesses extravasam o simples interesse por fazer algo pelo país. O problema é que algumas dessas tendências, no PSD, que, por vezes, até conhecem bem a realidade local, não têm tido a capacidade necessária para ter uma visão global do país. Não o conhecem, mas pensam que conhecem. Esse factor caracteriza, segundo algumas correntes filosóficas, a ignorância. E tem sido essa ignorância e essa mediocridade que têm impedido o PSD de ganhar mais do que eleições autárquicas. Porque, quando é para votar num rumo para o país, os portugueses, que pensam que os políticos só querem “poleiro”, olham para o PSD e aquilo que vêem é sempre muito, muito poucochinho.
Haja capacidade para vencer o PS, mas haja sobretudo capacidade e vontade de mudar e qualificar o PSD.
Se assim não for, mais vale desistirem da ideia de tirar o PS do Governo e o melhor é esquecerem esta nossa vontade, esta nossa enorme determinação, este enormíssimo sonho que temos, que é fazer, de Portugal, um país novo.

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