quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Seguro, mas pouco.


Se dependesse do líder do PS, o partido iria abster-se na votação do Orçamento de Estado para o ano que vem. Essa foi a sua palavra. Foi isso que quis dizer que referiu que haveria mais de 99% de possibilidades de não votar contra o Orçamento.
O que acontece é que Seguro, tal como pensam os seus camaradas, acha que os portugueses têm a memória curta. Não têm. E as medidas de austeridade, que o Governo PSD/CDS foi forçado a tomar têm duas razões: os demasiados anos de desgoverno socialista e o memorando de entendimento com a Troika, promovido pelo Partido Socialista (que, na altura, era o suporte do Governo), depois de encontrado o consenso com os partidos da sua direita parlamentar.
Com franqueza, aos olhos dos portugueses, que são sensatos, o PS não tem, não tem mesmo, por onde fugir.
Mas, pelo que parece, Seguro foi ouvir os parceiros sociais (que, deva-se dizer, também têm responsabilidades na situação actual), foi pressionado pelas manifestações (que, deva-se dizer, também se dirigiam contra o Partido Socialista, principal responsável pela inevitabilidade destas medidas), foi influenciado pelas palavras do Presidente da República e de alguns camaradas socialistas que, depois de tantos anos presos às cadeiras do poder, querem cegamente reavê-lo a qualquer custo.
Apesar de pouco interessar ao futuro dos portugueses, Seguro, pela forma como não esclarece definitivamente o sentido de voto do partido que lidera, só demonstra que, querendo cortar com o passado, é igual ao passado negro do poder socialista. Tal e qual como Mário Lino na questão do Aeroporto, Seguro só o é de nome. Porque, de resto, parece variar em função das pressões, sobretudo as piores pressões, que são as pressões partidárias.
Mais do que isso, demonstra, por não ser definitivo no esclarecimento do sentido de voto, que não é um líder. Um líder lidera. Impõe-se. Sabe o que quer. Estuda, movimenta-se, corta a direito. Seguro hesita, deixa-se ir. Transmite a mensagem que acha que vai soar melhor. É, neste último ponto, igual ao que Sócrates tinha de pior.
Ora, tendo em conta a responsabilidade socialista no estado das finanças públicas, Seguro não tem volta a dar. Ou vota a favor ou se abstém. Mas é esta falta de certezas, que abre as portas a um voto contra, que nos faz estar seguros de que este é só um líder de transição. É uma liderança em vão que tem, por seu demérito, os dias contados.
É certo que a conjuntura desta liderança era muito difícil. Mas Seguro, sendo inseguro em relação ao Orçamento (que se destina a cobrir uma situação pela qual ele próprio, tendo sido deputado da maioria PS, é co-responsável), só agrava as dificuldades.
Tendo em conta que Costa não quer liderar o PS nem governar o país neste clima de crise financeira, económica e social, podemos, com Seguro e com segurança, dizer que os próximos tempos irão ser penosos para o Partido Socialista.
Depois de seis anos de euforia e aplausos, de uma noite de despedida em lágrimas, agora já sabemos: esta é a verdadeira herança que Sócrates deixou.

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