sexta-feira, 2 de março de 2012

Anestesia geral


Depois de seis dias no estrangeiro, desligado do que se passava em Portugal, depois de aterrar, de chegar a casa, jantar e ver a parte final do Polónia-Portugal, começo a ver o telejornal e ouço o Procurador-Geral da República dizer que não vai ao Congresso dos Magistrados do Ministério Público porque não pode.
Na notícia seguinte aparece a Procuradora do Ministério Público, que interrogou o homicida de Beja, completamente tranquila a dizer que não ficou surpreendida com o suicídio deste .
Mais adiante, surge João Moutinho, sobre o jogo da selecção nacional, a dizer que não sabe o que correu mal na segunda parte do jogo da selecção porque já não estava em campo, esteve a maior parte desse tempo no balneário e não viu sequer o que se passou.
São três notícias. Ou três exemplos das notícias que passaram nos telejornais. E o mais grave é que parece que o país está anestesiado, como se tudo fosse normal.
É uma anestesia geral que acontece por força do exemplo que vem de cima. O que seria, se um português comum, o tal "homem médio" a que nos referimos frequentemente de uma perspectiva jurídica (e que somos quase todos), pudesse dizer que não ia a um evento onde deveria estar simplesmente porque não pode, mas que vão outros em seu lugar; que, num caso complexo na sua actividade pública e profissional, pudesse deixar de tomar as devidas providências para impedir que se realize a finalidade dessa mesma actividade; que, confrontado com mau desempenho do seu grupo de trabalho, atirasse as culpas para os outros?
O que seria? 
Mas há sempre uns que têm mais sorte que os outros. Aliás, é por esses "uns" que pagam os outros, tal e qual como se aprende na escola, a mesma escola que forma miúdos que, em tempo útil, fogem a esta falsa democracia, a este Estado de Direito da Treta e a esta República das Bananas, a que, há séculos, e com orgulho, se deu o nome de Portugal.

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