sexta-feira, 18 de junho de 2010

Recordar Saramago


"Nove anos procurou Blimunda. Começou por contar as estações, depois perdeu-lhes o sentido. Nos primeiros tempos calculava as léguas por dia, quatro, cinco, às vezes seis, mas depois confundiram-se-lhe os números, não tardou que o espaço e o tempo deixassem de ter significado, tudo se media em manhã, tarde, noite, chuva, soalheira, granizo, névoa e nevoeiro, caminho bom, caminho mau, encosta de subir, encosta de descer, planície, montanha, praia do mar, ribeira de rios, e rostos, milhares de rostos, rostos sem número que os dissesse, quantas vezes mais os que em Mafra se tinham juntado, e de entre os rostos, os das mulheres para as perguntas, os dos homens para ver se neles estava a resposta(...)
(...)Não se lembra de mim, chamavam-me Voadora, Ah, bem me lembro, então o homem que procurava, O meu homem, Sim, esse, Não achei, Ai pobrezinha, Ele não terá aparecido por aqui depois de eu ter passado, Não, não apareceu, nem nunca ouvi falar dele por estes arredores, Então cá vou, até um dia, Boa viagem, Se o encontrar."



Este é um excerto do texto do Grupo I do exame nacional do ensino secundário de Português, que realizei em 2006. É um excerto do Memorial do Convento, de José Saramago. As perguntas que se referiam a este texto valiam metade do exame nacional.
E, neste momento de despedida, mais do que lembrar as divergências ideológicas, devemos salientar a sua escrita, inovadora e merecedora do Nobel que Saramago venceu, facto que deve orgulhar todos nós, portugueses.
Obras como Memorial do Convento imortalizarão o escritor português, que continuará a ser estudado (e bem) nas escolas do país.

4 comentários:

Anónimo disse...

«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»
José Saramago - Cadernos de Lanzarote

JC

Humberto disse...

Ontem há noite, quando cheguei a casa, liguei a televisão para ver o telejornal das 20H. Eis que me deparo com a notícia.

Passados 15 minutos (20H15') pensei: "Já não deve faltar muito para passarem a outras notícias...".

Aos 20 minutos (20H20') já estava com o comando da TV na mão para ver o que poderia estar a dar noutros canais; parei no Euronews - finalmente notícias dignas do nome.

Aos 30 minutos (20H30') voltei a pegar no comando: o telejornal estava na mesma; de volta ao Euronews.

Aos 56 minutos (20H56') de volta aos canais portugueses... o telejornal continuava a novela Saramago.


Mais tarde soube que não foi apenas o(s) telejornal(ais) a ter este comportamento. Pelo que me contaram, foi a tarde toda a baterem sempre na mesma tecla, tecla, tecla, tecla, tecla, tecla, tecla, tecla, tecla, tecla, tecla...
É irritante, não é? Tanto bater de tecla...

O homem ganhou o Prémio Nobel, é bem verdade! Merece destaque. O bem merecido destaque! Mas mais do que isso (mais do que o bem merecido destaque) é doentio.
É doentio os vários canais de televisão portugueses dignarem-se a este comportamento como se Portugal inteiro estivesse parado e colado à televisão para saber todos os pormenores, inclusive os mais insignificantes, até à absoluta exaustão.

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=bysPResFr_o o antonio e psd que se deizem de direita gostava que comentasse este discurso parece que o psd ate tentou entrar na internacional socialista...

Anónimo disse...

sousa lara censura e governo de cavaco silva dizemlhe algo? ser corente da um trabalhão para a peseudo direita...