terça-feira, 19 de outubro de 2010

Brincadeiras



O Orçamento e a Constituição são muito mais importantes do que os dois principais partidos têm feito crer.
Sendo fundamental numa sociedade organizada e com regras, como ainda é a sociedade portuguesa, a Constituição tem, creio eu, ainda mais importância do que a nossa bandeira ou o nosso hino nacional.
A Constituição é o pilar maior de um Estado de Direito. Não se compara com um programa eleitoral. Uma revisão constitucional não pode ser feita em cima do joelho, não pode ter gralhas.
Não se pode apresentar uma proposta de revisão constitucional para, depois, se vir dizer que essa mesma proposta também vai ser revista, porque tinha erros. Nem, menos ainda, se pode dizer que, de um mês para o outro, se mudou de opinião sobre poderes do chefe de Estado.
A Constituição não é, também, um ideário político. Apesar de ter de ser sempre o primeiro instrumento que leve o país ao progresso, a Constituição, enquanto Lei Fundamental que é, deve merecer consensos. Mudar a Constituição implica muito pensamento, muito debate, uma longa reflexão.
Sei que “mudar” é uma palavra bonita. E estou de acordo que Portugal precisa de mudar a sua Constituição. Porque a que temos resultou de um processo revolucionário e tem, na sua génese, um sonho de utopia, natural de uma democracia que, na altura, tinha acabado de nascer no país. Mas "mudar" é, ou pelo menos devia ser, uma palavra muito mais forte, muito mais densa e muito mais séria do que se tem feito pensar.
Relativamente ao Orçamento, verificamos que o PSD disse que votava contra, mas afinal parece que vai deixar passar o documento. O PS parece espicaçar o PSD para que vote contra, de modo a que deixe de ser responsável pela governação. É uma espécie de mundo ao contrário, onde ninguém quer ser responsável por nada.
Mas responsáveis são todos. Os que governaram, os que deveriam já estar em condições de governar, os que votam sempre contra tudo, os que apresentam mal e tarde um mau Orçamento com erros e espaços em branco, os que pensam que se pode mudar a Constituição como se corta o cabelo. Se ficar mal, a seguir dá-se outro jeitinho.
Francamente! Já não estavam contentes quando brincavam aos políticos e começaram agora a brincar às Constituições e aos Orçamentos.
Pior do que isso: andam a brincar com os portugueses!
A leviandade com que se abordam os assuntos mais sérios caracteriza bem a classe política portuguesa. E a qualidade da classe política que temos justifica completamente a situação a que o país chegou.

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