Há um exercício que não é difícil e que, apesar disso, não deixa de merecer ser feito.
Tiremos o fato de portugueses, imaginemos que não lidamos todos os dias com as mentiras do Primeiro-Ministro, que não ouvimos todos os dias a palavra “crise” na rádio do carro quando regressamos a casa ao final da tarde, que não ouvimos essa palavra há quase, ou talvez mais até, de dez anos.
Imaginemos que somos estrangeiros, que trabalhamos num país que é rico graças à força da sua organização e trabalho. Ou imaginemos ainda que governamos um desses países. Ou que somos aqueles aos quais devemos dinheiro.
Nessa posição, de fora, olhemos para Portugal.
O que vemos, neste momento?
Sem falar na Justiça, o que vemos é um país com uma crise financeira grave, com défice excessivo. Vemos um agravamento da crise social, uma crise orçamental que, próxima do seu desfecho, não afastará uma crise política até ao fim do primeiro trimestre do ano que vem.
Vemos partidos políticos que se mostram incapazes de governar o país, sem qualquer vontade de diálogo, com nenhum sentido de responsabilidade.
Eles, os portugueses, não se conseguem governar a si próprios.
Eles, os portugueses, têm sérias dificuldades em negociar e fazer aprovar um documento tão basilar como um Orçamento de Estado.
Eles, os portugueses, construíram um Estado ineficiente, empregador de máquinas partidárias politicamente fraquinhas, um Estado que, nem em alturas de crise, percebe que, neste aspecto, já deveria ter feito uma limpeza geral.
E eles, os portugueses, não vivem sem paz. Criam problemas. Saídos de três actos eleitorais, numa altura de crise grave, querem marcar eleições para trocar de governo. Tirar estes e pôr outros, em palavras mais claras.
Não há ninguém naquele país que perceba que os problemas não se resolvem com um Orçamento?! Isso é o ponto de partida. Os problemas não se resolvem sem um plano de médio prazo, em que os partidos, construtiva e conjuntamente, terão de se responsabilizar pela condução política e pela estabilidade do país.
Andam, nesta altura, a discutir o que o Estado pode poupar em outdoors. Está tudo maluco ou quê?
O PS, porque para isso tem legitimidade, ainda não percebeu que tem de mudar Sócrates por alguém mais independente, com mais provas dadas, capaz de chefiar um Governo de consenso, onde o PSD terá de fazer parte, pelo menos até às próximas eleições!?
O PSD hesita quando tem de ceder à pressão externa. Não sabe se é mais forte a pressão externa do que a pressão de alguns dos membros grotescos da sua máquina.
O PR? O PR deixa andar! Depois dirá que avisou e que ninguém lhe deu ouvidos. Não será capaz de obrigar os dois maiores partidos (e porventura também o CDS) a formar um governo de União?
Depois do Pontal, tiveram três meses de instabilidade por incerteza no que respeita à aprovação do Orçamento. Agora vão ter mais instabilidade porque estão “anunciadas” eleições para Março ou Abril. Só podem estar doidos!
Que confiança nos gera um país desses, ainda que tenha o Orçamento aprovado? A mim, neste fato de quem não é português e que está a ver tudo de fora, não gera confiança nenhuma…
Parece que ninguém está atento a este filme, que ninguém consegue antever o seu final. Talvez seja importante que os portugueses se mentalizem que não podem continuar a ser “assaltados” por causa da demagogia, eleitoralismo e sede de poder por parte dos partidos.
Alguém faça acordar os portugueses. Para bem deles.
Em vez de estarem a discutir o relacionamento da Ana Isabel com o Hugo F., de estarem intrigados por não saberem se devem tirar o Renato ou o Vítor da Casa dos Segredos, talvez fosse também importante que os portugueses caíssem na realidade e prestassem muito mais atenção a esta novela transformada em filme de terror que roda no país.
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