sábado, 3 de setembro de 2011

A crise do Projecto Comum


Foi sempre em alturas de aflição que os países se fecharam mais, sendo que os Estados foram cedendo à pressão das populações, preferindo o que é nacional ao que é estrangeiro, tanto no que respeita à produção como ao consumo. Foi destas conjunturas que surgiram algumas das ditaduras recentes.

A altura que vivemos é de aflição, mas a actual conjuntura europeia, cujo ideal prevê um espaço sem fronteiras, num falso ideal de liberdade levado aos extremos, conjugado com a necessidade de preservar boas relações com o resto do mundo torna inviável a ideia de restringir algumas relações económicas.

Encarada com uma crise económica e financeira com antecedentes muito distantes, na União Europeia vive-se um ambiente de falta de coragem, sendo que o projecto europeu onde se previa uma Europa das Liberdades rapidamente seguiu um caminho desviante, estando agora, o Velho Continente, preso ao capital externo.

As crises são conjunturais. No mundo actual, seria inevitável que a Europa fosse afectada por uma crise que teve início nos Estados Unidos e que abalou todo o mundo.

O que se critica, ou o que criticam os cidadãos europeus, é a resposta europeia, que tinha de ser rápida e consensual entre todos os países da União. E a resposta que se deu, e que se continua a dar, é errada.

Numa União, independentemente do peso de cada um, exige-se solidariedade entre os países. Mas há outro ponto de que ninguém fala, senão uns extremistas e nacionalistas de direita, que é aquele que leva os cidadãos europeus às ruas em protesto. Falo da protecção que a União deveria dar aos seus povos.

Por exemplo, seria legítimo que a União, assumindo-se livre e transparente, protegesse os seus cidadãos e as suas empresas, restringindo relações económicas e imigração. Afinal de contas, como é possível que estejamos dependentes de países que não respeitam os direitos humanos e que, por isso, estejamos a empobrecer?

Como pode um comerciante de Salónica estar sem conseguir vender quando tem, como concorrência, produtos a menos de metade do preço quando os custos de produção do seu concorrente se devem a condições laborais completamente indignas num mundo que quer dignificar a vida humana?

Ou como pode um proprietário de campos de trigo em França, que se dedica à actividade agrícola, estar na miséria quando há um ditador africano que compra uma casa apalaçada de férias de dezenas de milhões de euros no sul de um outro país da mesma União?

Como pode, este Velho Continente, estar a ver algumas das suas principais empresas na falência ou a ser vendidas a troco de dinheiro sujo, que já custou milhares e milhares de vidas humanas? Será que não há volta a dar? Será mesmo incontornável?

Se as crises levam às mudanças, esta é uma altura fulcral para a coesão política entre os Estados-Membros e para a Europa rever a sua política externa, nomeadamente com economias que são deslealmente concorrentes.

São apenas exemplos, aqueles que dei. Mas os povos europeus têm razão quando saem às ruas. Têm toda a razão. Porque, por força da inacção dos seus governos, agarrados a ideias interpretadas de forma extrema, estamos todos mais pobres.

Sem medos de passados que ainda assombram a História recente deste nosso continente, teremos, nós, europeus, e sem os extremismos derrotados num passado relativamente recente, de encontrar um equilíbrio entre a liberdade democrática e a necessidade de proteger os povos.

Nesta fase, não é só a condição de vida do cidadão europeu que está em causa. A cada dia que passa, e não se notando grandes progressos económicos (pelo contrário!), começa a estar em causa o próprio Projecto Comum.

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