quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Desencanto


É normal que, trinta e cinco anos depois de 1974, exista uma maioria absoluta de portugueses que desconfia da classe política. Porque trinta e cinco anos depois da liberdade e da democracia terem chegado a Portugal, generalizou-se a ideia (correcta) de que há um longo caminho a percorrer na Justiça, na Segurança, na Saúde e na Educação, que são quatro pilares de um Estado democrático que se quer moderno e competitivo.

Os portugueses sentem que, por exemplo, na Educação, o problema não está só na polémica questão da avaliação dos professores. E sabem que não se torna a Educação mais moderna e mais capaz de fazer com que o país seja mais competitivo com medidas avulsas como a distribuição de computadores às crianças.

Contudo, é a situação na Justiça que mais justifica o desencanto actual. Onde deveria haver separação de poderes, o que os portugueses verificam é a existência de uma enorme promiscuidade e interferência do poder político no poder judicial, e vice-versa, num cocktail amargo onde têm também entrado o poder legislativo e o quarto poder, que é a comunicação social.

As pessoas estão descrentes. Desencanto é a palavra que melhor caracteriza o estado de espírito dos portugueses. Sobretudo nesta altura em que, a juntar-se às manifestas insuficiências naqueles quatro pilares do Estado, o país, que não se preveniu a tempo, enfrenta uma crise que agravou o desemprego, a situação económica e social, ao mesmo tempo em que praticamente estagnou o comércio interno.

Quem vive fora dos grandes centros urbanos está ainda mais desencantado, descrente e desconfiado, tais são as dificuldades que vivem as famílias que dedicam a sua actividade à agricultura, às pescas ou à criação de gado.

Em Portugal, está quase tudo por fazer. E já nenhum português pode embarcar em discursos hipócritas de quem, em vez de governar, sacode responsabilidades e se move em função de calendários eleitorais.

São todas essas razões, entre muitas (mesmo muitas) mais, que devem fazer a direita portuguesa reflectir. E quando falo em direita refiro-me a todas as pessoas que se posicionam à direita do Partido Socialista.

Um PPD/PSD dividido e, portanto, enfraquecido não tem ajudado à solução destes problemas. Pelo contrário. Está bem que houve um outro poder que quis ocultar uma face…oculta, enquanto lançou dúvidas, suspeitas e notícias, várias delas, mentirosas sobre alguns militantes do partido. Mas um PPD/PSD como aquele que existe em Lisboa, dominado pela delinquência, incompetência e ignorância de alguns “artistas”, não pode nunca ser parte da solução.

O PP, nestas eleições, uniu-se ao CDS e, sendo certo que fez um trabalho notável na Assembleia durante a última legislatura, recolheu frutos. Essa foi uma lição que os meus companheiros de partido deveriam aprender. Apesar de tudo, o bom resultado obtido nestas eleições é insuficiente para que seja a direita a apontar o caminho da governação.

Aos partidos que estão à direita do PS exige-se muito mais. Exige-se que ponham fim a este desencanto. Que pode ser transformado em miséria tendo em conta a expressão da esquerda extrema. Ou em tragédia, no caso de sermos governados ainda mais anos pelos socialistas. Que são os principais responsáveis pela situação actual em todos os sectores. Para nos apercebermos do que pode vir a acontecer, se o futuro for igual ao presente, basta olhar para todos os ministérios, para as pastas ou matérias de que tratam, e verificar que em noventa e cinco por cento dessas matérias a situação justifica a descrença das pessoas. E que se agravará se a presente conjuntura se prolongar temporalmente.

É perturbante ouvir que só agora se fala no ensino obrigatório até ao décimo segundo ano de escolaridade. E cai-se no ridículo de dizer que essa medida vai custar caro…numa altura em que se discutem novas-estradas e um TGV. Quais serão afinal as prioridades do país?

Num país com mais de oito séculos e meio de História, a Cultura nunca foi encarada como uma das grandes apostas estratégicas que deveriam ser feitas para tornar o país mais competitivo e apelativo. É verdade que, para 2010, se perspectiva um maior investimento nesta área, mas cá estaremos para o conferir. Veremos se vai ser aposta séria ou se os milhões se iram continuar a traduzir em apenas alguns subsídios (atribuídos de forma demasiado discricionária).

Com uma localização geográfica privilegiada, só se pensa no turismo na altura de fazer campos de golf ou megalómanos investimentos públicos que o país, neste momento, não pode pagar.

Não é de agora que se diz que Portugal é um país ingovernável. Mas qualquer país em que a pessoa de quem os cidadãos mais desconfiam é a pessoa do Primeiro-Ministro é um país completamente insusceptível de ser (bem) governado.

E é assim, com este desencanto, que os portugueses vão vivendo o seu dia-a-dia, num país em que se persegue quem faz o bem às pessoas e que nunca enriqueceu pelo serviço público prestado, mas em que, nem por isso, os corruptos deixam de ser praticamente intocáveis.

Este artigo que escrevo está longe de ser taxativo ou exaustivo nos motivos que justificam o desânimo dos que vão trabalhar amanhã, a desconfiança daqueles que se abstêm do direito ao voto e a descrença generalizada.

Amanhã será um dia difícil para os portugueses. O depois de amanhã será ainda mais. E assim sucessivamente. Oxalá que a selecção nacional consiga atenuar este desencanto. Que só poderá ser eficazmente combatido no dia em que aparecer um D. Sebastião, escondido em cada um de nós, a pôr o dedo na ferida, a repensar a estratégia de governação e a apontar fundamentadamente um caminho que nos leve ao desenvolvimento e à prosperidade.

3 comentários:

Anónimo disse...

...«Mas um PPD/PSD como aquele que existe em Lisboa, dominado pela delinquência, incompetência e ignorância de alguns “artistas”, não pode nunca ser parte da solução.»

Completamente de acordo, caro Antº. Mas gostava de fazer notar que alguns dos boys dos escalões mais baixos já estão a ser substituidos por outros menos 'queimados', mas que perpectuem a situção que menciona e eu citei.

Há grupos, FORA DOS PSD, A GERIR ESTA GENTE DE MODO A COLOCAR O psd ABAIXO DOS 20% E O ps BEM ACIMA DOS 60%.

regina disse...

pode ser que a troca dos "boys" dê mau resultado. na assembleia distrital vi um artista, que chegou agora ao palco, com uma "performance" de marginal que deve ter estado nalguma "universidade pública"...só visto porque não tenho palavras para contar!

Anónimo disse...

Como não estive, não vi. parece que perdi...