segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O Jorge


Conheci o Jorge desde que chegou a casa da Mafalda.
Vi a Mafalda e a tia a preparar o leite para ele beber. Para se tornar num gato ainda mais bonito, ainda mais saudável.
Vi o Jorge brincar sempre no seu jeito reguila, próprio de quem está sempre à espera de uma razão para fazer asneiras.
Era tão normal estacionar o carro, olhar para a janela da cozinha e ver o Jorge, ali, a olhar para a rua. Era tão normal ver o Jorge sair sorrateiramente de casa logo que eu entrava, para arranhar o tapete da entrada. Era tão normal ver o Jorge passar por mim quando eu abria a porta da varanda para se empoleirar ao pé das flores. Era tão normal ver o Jorge deitado num degrau das escadas de São Martinho enquanto eu via televisão…
Era ainda mais normal ver o Jorge deitado no bidé sempre que eu ia à casa de banho, mortinho para que alguém abrisse uma torneira para fazer aquilo que ele mais adorava. Porque o que Jorge gostava era de brincar com a água. Com a água da torneira, com a água do bebedouro, com a água da piscina de São Martinho.
A mesma normalidade como aquela em que, alguns dos dias em que dormi em São Martinho, dormi com o Jorge.
Por todos esses actos tão normais da minha vida, partilho a dor dos donos do Jorge. Que nos deixou de uma forma tão normal como precoce.
Resta-me a mim recordar as brincadeiras do Jorge com as bolas saltitonas, as malandrices que ele fazia, principalmente quando, inesperadamente, fugia de casa.
De facto, é um privilégio ter este dom raríssimo que é estar vivo. É uma oportunidade única. E há poucos momentos na vida tão bonitos como aqueles minutos, aparentemente normais, em que o Jorge, deitado, ronronava de felicidade.
À Mafalda, à Mariana e aos tios queria dar um beijinho de força.
Vai ser sobretudo naqueles momentos mais normais da minha vida que vou sentir a falta e a dor da perda de um amigo felino que eu tive.

Sentirei saudades tuas, Jorge. Até um dia.

2 comentários:

Maria Ana Castello-Branco disse...

O Jorge é persa. E o Jorge é lindo, muito parecido com um persa que tambem tive :)

Beijinho

Anónimo disse...

Como eu compreendo esta sensação de perda. Também uma apaixonada por animais, mas principalmente por gatos, não sei viver sem um amigo destes. Neste momento tenho 3 gatos que são a minha companhia. Já vi partir muitos outors, pois não sei viver sem os ter.
Um conselho para quem sobre a perda de um destes amigos...procurem outro amigo para o fazerem feliz e vos retribuir essa felicidade.