terça-feira, 2 de março de 2010

Verdades inconvenientes


José Sócrates ainda é Primeiro-Ministro de Portugal por uma só razão: é conveniente.
Ainda não foi substituído por António Costa porque este não deseja ascender a líder do PS e, possivelmente, a Primeiro-Ministro até às presidenciais. Até lá, Sócrates vai andar entretido com as habituais novelas sobre os negócios onde foi parte, directa ou indirecta, sobre a sua licenciatura, sobre o seu carácter e sobre uma série de episódios tristes como esta nova tendência socrática para calar jornalistas, bloggers, cidadãos e controlar a comunicação social.
Além dessas novelas, Sócrates vai ter de resolver um problema, que é a escolha do candidato presidencial do PS. Só depois dessa escolha e depois das eleições presidenciais é que António Costa pode ascender.
Até porque Costa tem um trunfo que não pode deitar fora. Construiu a união possível com a esquerda em Lisboa, incluindo, na sua lista, a ala local alegrista. Daí que ser líder do PS antes das presidenciais é um cenário indesejável para o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
E Sócrates, para mal do país, vai ficando. Porque é conveniente. E vai ficar até que essa conveniência deixe de existir.
Posso estar enganado, mas com a mesma situação depara-se, agora, o PSD.
Há um candidato que, em vez de ter apoios de convicção, tem apoios de conveniência. De distritais que decidiram precipitada e definitivamente num cenário diferente daquele que é o “leque” de escolhas possíveis. De membros da Juventude Social Democrata que não querem deitar fora as suas legítimas aspirações políticas e pessoais. De uma série de gente que, sem argumentos, apoia quase intuitivamente. São os “apoios porque sim”.
Ainda ontem à noite, ouvi uma pessoa, notável e respeitável dentro e fora do PSD, dizer que apoia esse candidato porque se esteve a preparar, durante muito tempo, para ser líder. Ora, se todos os portugueses pensassem dessa forma, ainda hoje teria sido restaurada a Monarquia e D. Duarte Pio teria sido aclamado Rei de Portugal.
O PSD, como o PS, vive uma altura muito pobre, em que não tem ideias. Move-se pelo momento. Pela conveniência do momento.
Isso poderá ser fatal para o país. Porque o país deveria ver o PSD, que é a única alternativa possível ao governo socialista, unir-se à volta de alguém competente, carismático, com aquela coisa a que muitos chamam de “chama”. De alguém que se conseguisse distinguir no próximo Congresso e impor-se aos olhos de toda a sociedade portuguesa, assumindo-se como próximo Primeiro-Ministro de Portugal.
Mas, na minha opinião, Sócrates já não devia ser Primeiro-Ministro. Só é Primeiro-Ministro porque isso é o que convém ao PS. Não foi substituído porque isso não convém a António Costa. Não convém ainda. E não vão haver eleições antecipadas porque esse é um cenário inconveniente, neste momento, para Cavaco Silva, que espera ser reeleito no próximo ano, e para o PSD, que se prepara ainda para escolher o próximo líder.
E já que estamos a preparar-nos para escolher o próximo líder, pois então que escolhamos aquele que menos convém ao PS. Mesmo que isso não convenha ao grupo de militantes que acima fiz referência.
O candidato que menos convém ao PS, a José Sócrates, a António Costa e até mesmo a Manuel Alegre é Paulo Rangel. Que ninguém tenha dúvidas disso.

2 comentários:

Anónimo disse...

Conveniências? Servem a quem?
Antonio Costa não vai substituir Socrates, pois a sua eleição não estará garantida e não lhe interesa ser lider de oposição. Por outro lado, os socialistas à esquerda vão empurrar Socrates, e forçar Cavaco a sair da toca, e assim garantem Alegre! Só assim Costa poderá avançar.
Conveniente a quem? Ao pessoal do avental que se amparam uns aos outros, temos vindo a assistir ao Ministério da Limpeza, antigo da justiça que juntamente com os agentes economicos se propoem em branquear, uma nova ditadura.
Esta é a nova tirania democratica em que vivemos.
Mai'nada!

Petinga disse...

Caro Antonio

Concordo com muito do que escreves aqui. Mas queria alertar que o Pais nao precisa de figuras "aglutinadoras" ou com carisma - para isso tivemos Socrates, PSL, Guterres e Cavaco. Precisa (precisava, porque nao o vai ter) de alguem com capacidade de tomar decisoes dificeis e que nao esteja simplesmente sequioso de poder. A manipulacao que referes de Cavaco para tentar conseguir a re-eleicao e um exemplo perfeito disso.
Por outro lado, a falacia da militancia partidaria quase "religiosa" e que as pessoas correm o risco de pensar que, com o seu partido no Poder, as coisas vao subitamente melhorar. Um bocado como o amor clubistico - se o Sporting for campeao, fica tudo bem e havera paz no Mundo. Infelizmente, nao e bem assim.

Um abraco