sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Qualificações e o fascismo português*
Começo por dizer, desde já, que este texto é uma provocação. Uma provocação que merecerá, certamente, reflexão. E que está preparada para eventuais insultos que chegarão depois.
Antes de 74, foi criado um preconceito, errado como todos os preconceitos. Recorrendo àquela visão arcaica de querer separar o Bem do Mal, alguns portugueses, iludidos por quem tinha aspirações políticas e económicas, meteram todos os ricos no mesmo saco. Eram os fascistas portugueses.
Os fascistas portugueses eram ricos. E vice-versa. Mas esqueceram-se esses portugueses, anti-fascistas, que aqueles sustentavam as aldeias, seguravam as cidades, pagavam a iluminação das ruas daquelas terriolas que estão agora a desaparecer, empregavam milhares e milhares de pessoas.
Muitas dessas fortunas desapareceram. Propriedades privadas foram ocupadas, casas foram roubadas, e, assim, muitas pessoas ficaram sem o seu emprego, muitas terras portuguesas foram perdendo a sua população.
Os fascistas, para algumas pessoas, ainda existem. Alguns, infelizmente, já partiram. Mas deixaram a sua fortuna, que distribuíram por pessoas de bem, para melhorar o país e o mundo.
36 anos depois, agora também há ricos que não são fascistas. Parte desses ricos são ricos à conta de um Orçamento que deveria servir para enriquecer os que não são tão ricos. São ricos porque roubam. Não empregam ninguém. Somos nós, portugueses, que os empregamos a eles próprios.
Esses ricos que roubam, inseridos em seitas semi-ocultas ou em estruturas político-partidárias corporativistas, enganaram o povo, destruíram o país, os nossos valores, as nossas tradições, tornaram-nos muito mais pobres.
Acham que os portugueses ainda são anti-fascistas. Mas o líder dos fascistas portugueses é, segundo uma votação realizada ainda muito recentemente, o melhor português da História.
Essa votação, injusta porque todos os grandes portugueses foram essenciais para a História desse nosso País que amamos, fez alguma justiça. A Salazar faltava o progressismo, uma ideologia de integração e de democratização. Mas não roubava, não enriqueceu, nem enriqueceu nenhum dos seus.
Depois da mudança do regime, a classe política portuguesa caiu num erro primário, onde Salazar não caiu. Confundiram, aqueles, a qualificação com uma lógica errada de interpretar o princípio da igualdade e os ideais democráticos.
Pensam, os políticos depois de Abril, que qualificar é sermos todos iguais. Todos temos de ser doutores, advogados, engenheiros, arquitectos. Essas eram as profissões dos fascistas, e como temos de ser contra os fascistas, temos também que ter, todos, as suas profissões.
Salazar não pensava assim. É verdade que muitos eram iletrados. Mas os que não eram, não eram porque escolhiam, preferiam e podiam não ser. E iam para escolas especializadas em determinadas áreas: indústria, comércio, agricultura. Eram carpinteiros, marceneiros, eram agricultores porque o país também precisava dessas profissões.
Há uma questão, actual, que é determinante para o futuro do país, à qual tem sido dada uma resposta errada. O que é qualificar? É tornar competente, é ser capaz. Como se qualifica Portugal? Sendo exigente. Abrindo horizontes. Criando escolas especializadas nas áreas em que o país se precisa de qualificar. Não é dizer a uma mulher do campo que tem de saber inglês, que pode voltar à escola, décadas depois, porque agora vai ser mais fácil ter o 12ºano. É o contrário disso.
Nem todos temos que ser cientistas, médicos, economistas, advogados. Nem todos temos de saber gerir uma empresa. Está errado quem pensa assim!
A classe política portuguesa, do pós-25 de Abril, errou. Porque partiu de um preconceito errado. Porque não soube ler o país. E, assim sendo, não o preparou para o futuro. Não foi tudo mau antes de 74 nem foi tudo bom depois.
Alguém tem de ter a coragem para dizer isto! As cidades não aguentam tanta gente. A agricultura está a morrer porque os “fascistas” deixaram de poder ser “fascistas”. Até o “fascismo” lhes roubaram!
Não podemos continuar a gastar recursos a formar doutores se já não temos espaço para os empregar por cá. Isso é anti-estratégico. Porque estamos a fortalecer aqueles que são nossos concorrentes.
E o país paga, agora, a factura dessa incompetência. Ao contrário do que se pensa, as pessoas não acreditam nas políticas actuais. Nem nos políticos da actualidade. E falam com saudade, a saudade portuguesa, de um passado que era mau, mas não tão mau como o tempo presente. Exceptuando, claro está, os investimentos que as fortunas dos fascistas permitem fazer. Como aquele investimento feito na valorização de uma zona histórica, abandonada pelo Estado, onde a Fundação do "fascista" António Champalimaud investiu. Para melhorar o futuro do país e do mundo.
* Qualquer semelhança entre os fascistas portugueses e os fascistas alemães ou italianos é apenas fruto da imaginação de alguns portugueses com aspirações políticas ou económicas incompatíveis com um ideal de uma Direita portuguesa conservadora, mas patriótica, que caracterizou o período do Estado Novo.
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8 comentários:
Um bom texto a merecer reflexão. Parabéns.
Subscrevo totalmente. Não o faria sem a nota final. Salazar era autoritário, não fascista. Exactamente porque não era desenvolvimentista.
Destaco:
«36 anos depois, agora também há ricos que não são fascistas. Parte desses ricos são ricos à conta de um Orçamento que deveria servir para enriquecer os que não são tão ricos. São ricos porque roubam. Não empregam ninguém. Somos nós, portugueses, que os empregamos a eles próprios.
Esses ricos que roubam, inseridos em seitas semi-ocultas ou em estruturas político-partidárias corporativistas, enganaram o povo, destruíram o país, os nossos valores, as nossas tradições, tornaram-nos muito mais pobres.»
Excelente texto.
Estou 100% de acordo com o que escreve, não retiro uma única vírgula e assino por baixo.
Parabéns António :)
Bjs :)
É com pena que leio este teu último post. Pena porque voltas a falar de um dos teus temas favoritos e ainda não viste onde está o problema. O Problema da agricultura não é do estado mas sim da má gestão das pessoas!
Claro que antes era mais fácil, os trabalhadores antes ganhavam um miséria e não era preciso um patrão muito qualificação para gerir as propriedades… Agora é um bocadinho mais difícil, porque os trabalhadores têm um salário mais justo e alguns regalias mas não é impossível. É necessário que os patrões saibam gerir e não apenas ter terras e estar à espera dos fundos do estado!
Como dizes e bem no inicio, foi criado um preconceito e que esta palavra significa que não tem fundamento. Para já estamos de acordo que nem todos os ricos eram fascistas.
Dizes também que eram os fascistas que sustentavam as aldeias e também está correcto. A questão é, quanto é que pagavam às pessoas, as condições em que as pessoas viviam, etc...Agora não me vás dizer que as pessoas viviam felizes, porque se fosse assim não havia uma revolução, certo? Ou não te importa a felicidade das pessoas em troca por um Portugal melhor? E o que é um Portugal melhor…
Também tens razão que as propriedades privadas foram ocupadas mas como sabes a maior parte delas foi recuperada pelos antigos proprietários…
Não percebo de quem estás a falar quando dizes “36 anos depois, agora também há ricos que não são fascistas…”. É do Jardim Gonçalves, Paulo Teixeira Pinto, etc?
Salazar foi eleito o melhor português da História?!?!… Só para te lembrar que essa eleição foi num programa de televisão e como deves saber não foram consultados todos os português… A casa dos segredos também foi o programa mais visto em Portugal (será que é o melhor programa de televisão?!?)
Depois falas em qualificar e nas escolas especializadas… Elas ainda existem, não percebo porque é não foste para agricultor??? Estás a ser anti-estratégico!!!O País precisa de ti!!! Ou és dos fascistas e tens que ser doutor???
Acho também piada falares na valorização de uma zona histórica com aquele mamarracho… Aquilo não se pode chamar valorizar!
Só tenho uma coisa a dizer. Parabéns pelo texto!
BAM
confundes fascista com burguês primeiro ponto, mostras preconceito em relação ao mundo rural ao chamar terreola às terras do interior.
essa do dístribuiram a sua riqueza é para rir, tal como dizia rousseau a "caridade é o mais um luxo dos ricos que alimentam o pobre como so cavalos que têm na sua quinta".
já agora é mostrada um profunda ignorância confrangedora em relação ao resto, do qual destaco dar relevo a uma votação que é similar à de um reality show, por essa lógica qualquer vencedor do big brother seria uma excelente pessoa, depois fala como se o psd nunca tivesse estado no governo, sim de facto andamos a sustentar quem rouba veja-se o caso bpn, que por acaso eram só pessoas que exerceram cargos de relevância nos governos de cavaco silva, já agora parece que tb acha muito ético um monárquico receber 10 milhões de euros quando sai de um banco privado e criticar o estado por gastar a mesma quantia nas comemorações do centenário da república, curiosamente tb é proximo do psd e já pertenceu a uma seita semi-ocultas que tanto abomina neste post, "adoro" o racismo social na parte final, caso não saiba muitos portugueses não estudaram porque se não fossem trabalhar morriam à fome, no estado novo o ensino era extremamente elitizado e sempre apoiado na oligarquia das familías ricas e com a ajuda da igreja católica. nem distingue fascista de latinfundiário, é confragedor o populismo desbregado aqui enunciado. já agora espero que fique a saber o que é o fascismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Fascismo espero que tenha contribuido para o esclarecimento, e tenho pena que o psd por quem ainda tenho um mínimo de respeito, um partido que inclusivé queria entrar para a internacional socialista tenha militantes com este pensamento. gostava de me respondesse e/ou criticasse mas se não o fizer espero pelo menos ter contribuído para a reflexão
esquecime de referir folgo em saber a preocupação que tem com os agriculturas seria bom recordar que foi no consulado de cavaco silva que se rebentouu com o sector e se trocaram fundos por jipes, cumprimentos
Obrigado Hugo, João, Maria e BAM.
Quanto ao outro anónimo que comentou, agradeço os comentários e estou feliz por ter contribuído para, também a si, ter ajudado a reflectir.
Este é um texto de reflexão, mas construtivo. Já é tempo para pensar o que foi que, de Abril para frente, correu mal. Para melhorar o país.
Dispense-nos do seu tom destrutivo. Porque para destrutivo já temos quem nos governa e tem governado e nos colocou num buraco com muito mais de 700 metros de profundidade, num local tão fundo que tem sido complicado ver a luz lá em cima.
Cumprimentos a todos
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