sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Uma teoria das abelhas



Na obra “The Wisdom of the Hive”, o professor e investigador Thomas Seeley explica que um enxame é capaz de explorar alimento a uma distância de seis ou mais quilómetros da colmeia.
Mas a probabilidade é cada vez maior quando o néctar está num raio de dois quilómetros do enxame. Nesse caso, a probabilidade de o descobrirem é superior a cinquenta por cento.
Mais do que contribuir para a nossa cultura geral, esta teoria sobre as abelhas, transformada numa metáfora invulgar, pode explicar dois assuntos que são comummente falados em Portugal: a pobreza da vida política com a desqualificação dos principais agentes políticos e a escassez de recursos públicos.
Para tal, bastará que interpretemos metaforicamente o enxame e o néctar.
É certo que o homem quando encontrou o seu néctar no Estado não voltou atrás, até junto do seu enxame, fazendo a mesma dança com vários meneios do abdómen, como fazem as abelhas quando encontram uma fonte de néctar bastante promissora. Não fez essa dança, mas voltou até junto dos seus, sugerindo e cativando-os para a probabilidade de conseguirem, no Estado, o néctar fácil.
Nesse aspecto, a própria teoria do professor norte-americano, ainda que aplicável aos enxames, pode servir de explicação. Quanto mais próximo está o néctar, maior será a probabilidade de ser devorado pelo enxame.
O Estado foi, e tem sido, um néctar fácil.
E este néctar foi completamente devorado por aquele enxame.
Há muito que deixou de haver néctar para as alimentar.
E, por isso, começou a importar-se néctar. A pedir-se emprestado. Para alimentar as abelhas. E para que o resto dos animais que, com elas, coabita o jardim não morra na miséria.
Aliás, estes pobres animais ainda têm de aturar a falta de gratidão e escrúpulos do enxame, sendo confrontados, frequentemente, com valentes picadas deste.
Mas como é que saio agora desta comparação quase absurda entre uma teoria que nos fala da sabedoria dos enxames e a pobreza a todos os níveis que se vive em Portugal?
Com uma solução.
Tem de se acabar com as abelhas.
Ou, se isso for impossível, tem de se restringir o acesso ao néctar.
Para que a escassez de néctar e a fome não se apoderem de todos os animais do jardim.

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