terça-feira, 8 de março de 2011

Ficção e realidade


O "Tropa de Elite 2" fala de uma realidade muito específica do Rio de Janeiro.
Mas, ao contrário do primeiro filme, não se fala apenas do BOPE e da sua acção nas favelas.
Fala na corrupção, num sistema de grande promiscuidade entre traficantes e gente do "sistema".
E a corrupção que existe, segundo o filme que, logo no início, refere que qualquer semelhança com a realidade é apenas coincidência, não está apenas ao nível dos polícias. Passa também pelos políticos e por gente com influência em construir opinião.
Numa parte desta obra de ficção brasileira, existem umas escutas, interceptadas ilegalmente que são suficientes para incriminar uma pessoa desse sistema.
O conteúdo daquela escuta permitia perceber como funciona uma rede de interesses.
Nessa parte, há uma conferência de imprensa em que um funcionário do sistema diz, publicamente, que as escutas foram obtidas ilegalmente, devendo ser destruídas.
Quem vê o filme e sabe o que foi dito na conversa gravada e escutada, sente, logo, uma enorme frustração porque, entre a morte de vários inocentes, depois de um trabalho bem feito de um deputado com conhecimentos concretos sobre a realidade, depois de ter sido assassinada uma jornalista que tinha provas para incriminar políticos, polícias e criminosos, a escuta que permitia incriminá-los a todos vai ser destruída.
Em Portugal, não existe esta realidade típica das favelas brasileiras e do Complexo do Alemão, não existe uma criminalidade que mata agentes da polícia e pessoas dos órgãos de comunicação social que fazem o seu trabalho e nem sequer existe uma polícia com competência especializada para intervenções a este nível.
Mas creio que todos os meus queridos leitores, depois de terem lido o que acima escrevi sobre um episódio desta obra de ficção sobre uma realidade que não existe em Portugal, compreendem bem o que eu quero dizer...
Em Portugal ou no Brasil ou em qualquer canto deste nosso mundo, na realidade ou na ficção, a destruição de escutas e de provas que permitem incriminar uma pessoa ou um grupo de pessoas, em crimes graves, nomeadamente quando se trata de pessoas que desempenham importantes funções no Estado, é um dos maiores entraves para que se caminhe no sentido de um mundo mais verdadeiro e mais justo.

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