quarta-feira, 23 de março de 2011

A RTP

Pode não ser a altura ideal para escrever sobre este assunto, até porque a RTP teve um lucro a rondar os 15 milhões de euros, facto que poderia deitar por terra o principal argumento utilizado por quem defende a privatização da estação pública. Mas este é um ponto sobre o qual sempre mantive a mesma opinião, contrária a muita gente com a qual me revejo no essencial das ideias políticas.

Do meu ponto de vista, o Estado deve ter uma acção na comunicação social, que pode ser perfeitamente cumprida através da regulação da actividade de comunicação social, esgotando-se nessa mesma regulação, que garantirá a democraticidade a nível político, religioso, mas também desportivo e social, reestruturando a sua actividade para as comunidades portuguesas no estrangeiro, a qual deverá manter-se em funcionamento.

Parece-me assim que a extinção da RTP e, porventura, a criação de um novo canal privado que ocuparia o lugar da estação pública garantia os níveis de empregabilidade no sector, possibilitando uma melhoria significativa na qualidade da actividade de televisão.

Esta minha ideia surge reforçada porque a RTP se tem desligado da lógica de serviço público, fazendo com que os contribuintes portugueses paguem para uma Praça da Alegria que as estações privadas já fazem com mais qualidade e audiência. E o mesmo acontece relativamente à generalidade dos programas da estação pública, como o Preço Certo, o Quem Quer Ser Milionário, o Portugal no Coração, entre outros dos principais programas.

O que é certo é que a lógica seguida pela RTP se tem desligado da função de serviço público, tendo um canal onde passa séries americanas pagas com dinheiros públicos portugueses e, em canal aberto, tem-se focado numa lógica de grande consumo, tal e qual como acontece, apesar de com outros métodos, na SIC e na TVI.

Estes programas para consumo das massas têm-se, portanto, sobreposto à ideia de serviço público de televisão.

Como exemplo, acho incompreensível que, numa altura em que o Sporting Clube de Portugal parte para as eleições mais disputadas, participadas e decisivas da História, e sendo o Sporting um Clube de Portugal e aquele que mais títulos ofereceu ao país nas suas mais diversas modalidades, a RTP tenha abdicado de, em canal aberto, promover o debate que os milhões de portugueses sportinguistas queriam ouvir, entre os candidatos à liderança do Clube.

A RTP tinha a obrigação, enquanto canal público e promotor do serviço público, de promover esse debate, juntando-o a várias entrevistas a cada um dos candidatos e, possivelmente, com informação útil para os sócios que ainda têm dúvidas sobre a real situação financeira do clube, sobre os programas e propostas dos candidatos, sobre as soluções que apresentam para os problemas extremos com que o Clube se depara, sobretudo no que toca à sua dívida e ao seu passivo.

A RTP abdicou dessa sua função, remetendo para o canal por cabo o que deveria ter sido feito em canal aberto.

Não o fez por considerar que as eleições do Sporting seriam secundárias neste momento, mas por considerar que programas de entretenimento eram mais favoráveis aos interesses da estação do que a mais premiada instituição desportiva de Portugal.

Defendeu apenas os interesses da estação.

Outro exemplo tem que ver com as eleições para a Associação Portuguesa dos Criadores do Cavalo Puro Sangue Lusitano, algo que é património nacional e que pode, bem aproveitado, ser um dos grandes factores turísticos do país.

Nas eleições da próxima sexta-feira está em causa a manutenção do padrão desta Nobre Raça Portuguesa, por muitos considerada como a mais funcional e versátil do mundo, e a salvaguarda de que a continuidade da avaliação e inscrição de um cavalo como Puro Sangue Lusitano se irá manter em Portugal. E só em Portugal.

Se isso não vier a acontecer, pode estar em causa o futuro da própria Raça.

A maioria dos portugueses não sabe disso. E se não sabe, isso muito se deve ao desprezo com que a estação pública tratou sempre algo que é tão importante para o património e identidade portugueses como o Fado.

São dois assuntos pertinentes, do ponto de vista dos interesses dos portugueses e dos interesses de Portugal, que passaram ao lado da RTP e que agravam a minha ideia de que não há nada que distinga, do ponto de vista dos interesses do país, a RTP dos canais privados.

E, se a RTP não se distingue dos canais privados, defendendo os seus interesses a nível de audiência, abdicando da função de defender os interesses nacionais, e sendo também paga pelos impostos dos contribuintes, então não pode haver outro caminho senão o de acabar com a RTP.

Em suma, na minha opinião, os portugueses não podem continuar a trabalhar para que, de uma forma directa ou indirecta, o dinheiro dos seus impostos se destine a fazer com que se mantenha a funcionar um canal igual aos privados, empregando e defendendo as gentes e os interesses de um regime político que faliu.

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