sexta-feira, 4 de março de 2011

Venham ajudar os partidos

A sociedade civil e os partidos são autónomos um do outro.
E deve ser assim, compreendo a autonomia da sociedade civil, que os partidos a devem encarar.
Porque a defesa dos direitos civis e políticos não surge dos partidos, antes da própria cidadania.
Aliás, os partidos só existem porque os cidadãos, unidos em torno de ideais, assim quiseram.
Nesse sentido, é normal que a sociedade civil, sem pedir autorização aos partidos, se mobilize. É natural que marque a sua própria agenda, reivindicando os seus direitos legítimos na defesa de uma sociedade com mais e melhores oportunidades, mais livre e mais igual.
De resto, este tipo de reivindicação é tão legítimo como supra-partidário (e não apartidário como alguns têm defendido), já que não há partido razoável que queira menos oportunidades, menos liberdades, menos igualdade, em suma, uma sociedade pior.
Os partidos políticos não têm, portanto, de pensar que são os únicos porta-vozes defensores de um Portugal com melhor qualidade de vida.
Não existe uma substituição, antes um complemento.
Nesse sentido, algumas pessoas têm-me perguntado sobre a manifestação de um "movimento espontâneo", se é que as duas palavras podem coincidir numa expressão única.
Na minha opinião, a manifestação é legítima, defende interesses legítimos e reflecte, até por ter sido convocada através de uma rede social, o estado de espírito de uma geração.
Desde que seja devidamente comunicada, não há nada que obste este grupo significativo de cidadãos que tem dificuldade em ter um trabalho digno, que não tem grandes oportunidades de construir fazer uma grande carreira, nem família e se sente, muitas vezes, pressionada a ter de abandonar o país, possa, nas ruas, manifestar as suas preocupações.
Do meu ponto de vista, não há qualquer problema que a sociedade civil tenha as suas canções, as suas reivindicações, as suas manifestações, próprias da sua liberdade, independência e autonomia.
Este facto não deve ser repudiado ou desprezado pelos partidos.
Pelo contrário. Está aqui um sinal de ruptura, de separação, em que os cidadãos, pela primeira vez, sentem que os partidos não têm sido capazes.
Enquanto membro da JSD e militante do PSD, a minha resposta é muito simples.
Dizem que os partidos estão cheios de gente medíocre e incompetente. De gente que pensa no voto como um número, na pessoa como um elemento de uma estatística, do povo como algo que vai contribuir para uma melhor qualidade de vida de político.
Dizem que as pessoas, nos partidos, se movem por interesses e por conveniências. E que o mundo dos partidos é um mundo sem valores, sem ética, sem amizade, de gente que não pensa no que é, ou deixa de ser, o interesse público.
De um modo geral, estou de acordo.
A mediocridade nos partidos reflecte-se no estado do país.
Mas a minha solução é outra. É um convite.
Empenhem-se, envolvam-se, venham para os partidos.
No PSD e na JSD, somos muitos, ou, se calhar, somos só alguns, os que queremos mudar a nossa rua, a nossa freguesia, o nosso concelho, o nosso país. Estamos mobilizados em mudar o nosso mundo.
Não se resignem.
Venham expurgar a mediocridade nos partidos, venham ajudar-nos a devolver-lhes os seus valores, venham discutir ideias para fazermos um novo projecto para Portugal.
Posso até estar convosco na manifestação porque partilho as vossas preocupações.
Mas gritar não chega. É preciso ser responsável, pegar nas rédeas e arregaçar as mangas.
Se o mundo é parvo e se nada fazem para o mudar, quem são os parvos, afinal?
Juntem as vossas às nossas convicções. Continuem a mover-se de acordo com elas.
Sejam políticos, venham ajudar-nos nos partidos. Só assim, todos juntos, poderemos, de facto, mudar Portugal.

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