quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Numa equipa que ganha não se mexe!


É uma daquelas frases fáceis, correntemente utilizada nas mais diversas circunstâncias, fruto de vários episódios da História que deram origem à sabedoria popular.

Pois é. Numa equipa que ganha não se mexe.

Dir-me-ão, contrapondo, que, havendo uma nova maioria parlamentar a suportar uma nova liderança política no país, não há nada mais natural do que uma alteração dos titulares de cargos públicos. Dir-me-ão que é estratégia. E estratégia será.

Vejamos o que acontece numa empresa. Havendo alteração de líderes, é natural que sejam escolhidas novas pessoas, da confiança dos novos líderes.

Ora, no país, que não é uma empresa, é igualmente natural que o Primeiro-Ministro e demais membros do Governo prefiram nomear pessoas que mereçam a sua confiança política. Estando ou não filiadas nos partidos que suportam a maioria, têm de partilhar ideias nucleares sobre o caminho que o país deve seguir.

É esta a lógica que fomenta o clientelismo: os subordinados superiores têm de se rever nas ideias daquele que os nomearam.

Mas há, nesta teoria, um pouco que está errado. Porque os titulares dos cargos públicos não devem subordinar a sua actividade a quem lidera politicamente o país. Subordinam-na aos portugueses e ao País. Se assim não for, entramos na lógica da confusão entre o interesse partidário e o interesse nacional.

Olhemos para as limpezas gerais protagonizadas pelos ex-Primeiros-Ministros António Guterres e José Sócrates. Lembremo-nos do que aconteceu na Direcção-Geral dos Impostos, em que os socialistas, por populismo puro e duro, afastaram o homem que, auferindo mensalmente mais dinheiro do que aquele que deveria receber, era uma mais-valia do Estado Português, dado que tornava eficaz a política fiscal. Foi “despedido”.

Nessa altura, e com a comunicação social praticamente controlada pela liderança socialista, houve algumas vozes social-democratas que protestaram contra esse “despedimento”. Não o fizeram pela amizade que possivelmente nutriam por Paulo Macedo nem pelos interesses do PSD. Fizeram-no porque sentiam que este, agora Ministro da Saúde, era um dos homens-chave do Estado, independentemente de quem estivesse na liderança do Governo.

Enterrado que está o terrível passado socrático, o tempo não é, de todo, de vingança. Pelo contrário. Os terríveis tempos que ainda vivemos são de união e solidariedade nacionais. E nem tudo foi mau nos últimos seis anos.

Voltamos agora ao ponto por onde começámos: numa equipa que ganha não se mexe. E é assim que chegamos ao exemplo da EPAL, agora que estamos no período final do mandato do actual Presidente do Conselho de Administração.

Escrevia o Jornal de Negócios, há poucos meses, que “a EPAL mostra que empresa pública não rima com ineficiência. Em primeiro lugar, a empresa dá lucros. Em segundo lugar, tem uma boa relação com os consumidores, conseguindo que 88% sejam atendidos em menos de 15 minutos. Em terceiro lugar, melhorou o serviço”. Diz-se ainda que a EPAL, liderada por João Fidalgo, conseguiu obter crédito a uma taxa 1,8% menor do que aquela que foi concedida ao Estado.

Não podemos confundir o fim de um mandato com a imperatividade de fazer rolar cabeças.

É preciso mudar muita coisa. Mas, nos tempos difíceis que vivemos, mais do que apelar à união, é preciso chamar o valor, a experiência, o rigor e a excelência.

Também se dá um bom sinal ao país, mantendo-se o que de bom e de melhor veio do passado.

A EPAL é um exemplo disso.

Não há, portanto, clientelismo nenhum que justifique a substituição do actual Conselho de Administração. E estratégia é ficar com quem ganha…

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa perspectiva. Tomando o mesmo sentido das suas palavras, para quê a privatização da RTP quando deu lucro? Para quê a privatização de empresas públicas que têm proveito? Para satisfazer amizades alaranjadas? Porque repare, "numa equipa que ganha não se mexe!".

António Lopes da Costa disse...

A questão da RTP é diferente.
O primeiro ponto que não é claro prende-se com o lucro, porque o lucro da RTP pode não significar necessariamente que o Estado, através da RTP, tenha mais receitas do que despesas. Isto, porque parte das receitas da RTP surgem da publicidade que é feita (e, por isso, paga) por outras empresas públicas.
O segundo ponto tem que ver com a interferência do poder político no quarto poder, que é a comunicação social. Creio que uma regulação bem feita poderia esgotar a interferência do Estado nesta matéria.
Todos nós conhecemos algumas das pressões, muitas delas criminosas, que são feitas a pessoas que trabalham na comunicação social. Imagine quando, olhando para a sua hierarquia e trabalhando na RTP, visse um Primeiro-Ministro, obviamente identificado com uma linha político-partidária: veria as suas liberdades bastante reduzidas.
Com a RTP, a história é um pouco diferente. Admito que deva continuar a ser pública. Admito mudar de opinião, se me for provado que estou errado. Mas, se tivesse de lhe responder, diria que, na minha opinião, a RTP deveria passar para os privados.

Cumprimentos,
António