sábado, 10 de janeiro de 2009

Os sem-abrigo de Lisboa


Estava no terraço, onde os alunos do Ensino Secundário que estudam no Colégio S.João de Brito passam os intervalos. Tinha saído de uma aula de TOE e faltavam alguns minutos para tocar para a aula de Português, quando recebi o telefonema da minha mãe a dizer que iria estar, naquela noite, com os sem-abrigo da cidade, que iriam ser visitados por Cristiano Ronaldo, Ricardo Quaresma e Nuno Santos, que eram os três, na altura, jogadores do meu Sporting. Talvez pudesse, à hora de jantar, passar por lá para dar um beijinho à minha mãe, conhecer como a Câmara, da altura do dr. Pedro Santana Lopes, cuidava dos sem-abrigo e, claro, aproveitava para apertar a mão aos jogadores do meu querido clube.
O dia passou devagar. Depois da aula de Português, tive ainda uma outra, à que se seguiu o intervalo do almoço. Fui com os meus amigos almoçar à Dona Mónica e voltámos para a aula de História. Contudo, o dia não ficava por ali e tive treino de futebol da equipa do Colégio, onde tinha acabado de entrar.
O fim-da-tarde aproximou-se com muito frio, chuva e alguns golos. Às seis voltei para casa, lanchei, tomei um banho e descansei um bocado. Aproximava-se a hora de jantar e decidi ir, então, ver a minha mãe, o Cristiano, o Quaresma, o Nuno Santos e os sem-abrigo de Lisboa.
Conheci a realidade daqueles que trabalhavam nas áreas sociais da Câmara e da recompensante missão de ajudar aqueles que mais precisam. Quando entrei no local que, confesso não me lembro bem onde era, não estavam ainda os três craques. Dei um beijinho à minha mãe, mas fiquei completamente admirado com a quantidade de pessoas que ali comiam e bebiam, ao quentinho.
Para quem não sabe e apesar de parecer estranho, a maioria esmagadora dos sem-abrigo não vai a iniciativa destas. É preciso um esforço árduo e um enormíssimo espírito humanitário e de missão para levar a que os sem-abrigo adiram e, desse modo, se protejam dos perigos para a saúde que condições meteorológicas adversas podem causar. Foi um trabalho difícil, mas a verdade é que estavam algumas centenas de sem-abrigo, naquele local e à hora em que eu fui. Muitos mais passaram enquanto eu estive nas aulas, no treino ou em casa.
Nesse dia, que não esquecerei, conheci o Cristiano Ronaldo, o Quaresma, o Nuno Santos e até cumprimentei o próprio Boloni. Mas confesso que me comovi quando vi tantas pessoas, com tantas dificuldades, a jantar, ao pé dos seus ídolos. E, assim, a Câmara, com a cooperação dos clubes e com a compreensão dos jogadores, conseguiu aquilo que queria, que é ajudar quem mais precisa.
Noutro dia, foram jogadores do Benfica e disseram-me que a adesão havia sido muito grande por parte dos sem-abrigo.
Bem sei que o tempo passa e haverá, ao que me foi permitido apurar, neste momento, perto de um milhar de sem-abrigo na cidade de Lisboa. Bem sei que o mandato de António Costa, com a vereadora Ana Sara Brito, tem sido de total ineficácia. Vivemos como se a Câmara estivesse estagnada, com um preocupante eclipse de ideias e despida de qualquer projecto para o futuro. Mas não esperava que, num dia em que nevou abundantemente no norte e se fez sentir o frio (e de que maneira!) na cidade de Lisboa, na altura dos telejornais aparecesse uma tenda, com Ana Sara Brito, com vários jornalistas, câmeras e repórteres de televisão, com algumas pessoas da Câmara e com alguns membros da Cruz Vermelha...mas cheia de mesas vazias e com apenas três sem-abrigo.
Afinal, agora é que era só fogo de vista. Porque, de verdade, a Câmara de Lisboa foi completamente ineficaz. O que com Ana Sara Brito e com António Costa (em coligação com um Zé que fazia muita falta) não admira.
Lisboa precisa de políticas, de ideias, de projectos. Mas, além de tudo isso, precisa de alguém que consiga satisfazer os interesses de quem cá vive. Em casa ou na rua.

1 comentário:

Anónimo disse...

grande António!
As realidades mudam. No entanto, continua a ser necessário o empenho real dos responsáveis, sem o qual as realizações não obtêm o efeito desejado. Ninguém tem, a não ser os maldosos, dúvida de que a Acção Social da CML no tempo do Dr. Pedro Santana Lopes, a cargo da Vereadora Lopes da Costa, desenvolveu os melhjores projectos. Custa ver tal capital malbaratado mas, e há sempre um mas, tempo virá que pode ser de esperança para os lisboetas.
Um abraço