quinta-feira, 19 de novembro de 2009
A Bósnia
Apesar do sofrimento e da falta de qualidade do futebol praticado, o objectivo principal foi alcançado. Porque o que se pedia ao seleccionador nacional era o apuramento para o Campeonato do Mundo de futebol que se realizará na África do Sul, no ano que vem. E nós, diga-se o que se disser, vamos mesmo lá estar.
Mas houve uma questão, que nada tem que ver com o futebol, que me irritou particularmente nos últimos dias, que foi a forma como alguns jornalistas portugueses e comentadores desportivos criticaram alguns factos ocorridos em território bósnio. Desde a "espera" feita aos jogadores portugueses às condições do relvado.
Citei uma frase, há dias, que dizia que "o futebol não é tudo na vida". Mas, sendo um desporto de grandes massas, o futebol acaba por ter o mérito de unir nações inteiras nem que seja apenas durante hora e meia.
Isso aconteceu com a Bósnia. Que é um país relativamente recente, muitíssimo traumatizado pela guerra. E, assim sendo, um possível apuramento para o Campeonato do Mundo, no ponto de vista dos bósnios, era a maior afirmação possível que o país poderia ter neste momento. Daí vermos os jornalistas em directo com os cachecóis do seu país ao pescoço.
Pela experiência (também ela ainda relativamente) recente de viver em guerra, compreende-se que uma forma possível de empolgar o povo seria assumir um discurso desse género. Foi absolutamente normal ouvir um seleccionador bósnio pedir aos seus jogadores para se baterem como guerreiros. Do mesmo modo que, precisando de um pouco mais de sorte, não me surpreendeu a escolha de um estádio que, não tendo condições (nem de segurança, nem ao nível do relvado), era talismã.
Se tudo isso tivesse acontecido em Espanha, em Inglaterra, na Suíça ou mesmo em Portugal, seria mais condenável. Na Bósnia tem de ser mais tolerável. Oxalá que nunca tenhamos de jogar em relvados cheios de buracos e lama. Oxalá que nunca vivamos a guerra que o povo bósnio sofreu.
Claro que me senti ferido no meu orgulho quando ouvi "A Portuguesa" ser assobiada. Claro que partilhei o sofrimento dos portugueses (atletas, dirigentes, jornalistas, militates e cidadãos) que estiveram na bósnia. É óbvio que, numa primeira fase, me chocaram os insultos feitos a jogadores que representavam o meu País. Mas estou convencido de que todos os jogadores perceberam que ali isso se poderia aceitar. Possivelmente, se as circunstâncias fossem idênticas, teriamos feito o mesmo ou pior.
Parabéns à selecção bósnia que conseguiu unir um país. E por ter possibilitado o sonho aos seus compatriotas.
Parabéns à selecção portuguesa, pela forma como se bateu nestes dois jogos, sobretudo no segundo, e pelo apuramento.
Dobrámos o Cabo das Tormentas. Que se levante, no ano que vem, o esplendor de Portugal na África do Sul.
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2 comentários:
nao ha a minima desculpa para as cenas lamentaveis antonio.
aquilo foi uma vergonha. vandalismos nao devem ser aceites em lado nenhum do mundo, muito menos num pais que saiu da guerra!
os jogadores teem q jogar futebol e unir o pais pela sua qualidade e por tudo o q uma ida a um primeiro mundial representaria, nao pela sua atitude "guerreira"
Excelente perspectiva António! Tal como afirma Dieter Nohlen "o contexto faz a diferença", logo compreendo aquilo que escreves-te.
Pude assistir ao jogo do Estádio da Luz e vi os bósnios a respeitar e aplaudir "A Portuguesa".
Naquele cenário seria difícil controlar os ânimos de uma nação que está a constuir a sua identidade aos poucos.
Abraço
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