sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Ainda bem!


Quem esperava ouvir discutidas algumas ideias sobre o país nesta campanha eleitoral que elegerá o futuro Presidente da República, desengane-se.
A campanha eleitoral portuguesa tem sido, isso mesmo, uma campanha eleitoral portuguesa. Igual às outras.
Desenterra-se o passado.
Cria-se e divulga-se a dúvida, com a conivência da comunicação social.
Entrámos num ano novo mas continua-se a discutir o que se passou há dez anos.
Não tem pés nem cabeça. Mas não deixa de ser o costume.
Quando a Justiça não funciona, aquele que chama vigarista ao outro, torna o outro vigarista aos olhos das pessoas.
E não passamos daqui.
Havia muito, mas mesmo muito, por onde pegar.
Porque, para uns, Cavaco agiu pouco quando deveria ter agido muito.
Ou, então, quando agiu, agiu em sentido contrário ao que as pessoas queriam que ele tivesse agido.
Mas agora que falamos do BPN, esse “enorme escândalo dos capitalistas da direita portuguesa”, importa relembrar que a bolha só rebentou por causa de um supervisor que não supervisionou. Que, por mero acaso, era da esquerda moderna ou democrática ou lá o que quiserem que lhes chamemos. Era socialista.
Importa ainda registar o desespero de Manuel Alegre, que chega a meter dó.
Sendo o anel de um noivado entre a extrema-esquerda e o partido contra o qual se candidatou nas últimas eleições, um dos “donos” da nossa democracia entrou agora no campo dos manifestos ataques pessoais, com direito a calúnias do mais graves que a democracia portuguesa já pôde assistir.
Mas ainda bem que isto, que não deixa de ser mais do mesmo e improvável ao mesmo tempo, está a acontecer. Foi esta esquerda que deixou o país como está. Deixaram que a justiça deixasse de funcionar. Que a comunicação social se tornasse seguidista no quotidiano para que as bombas explodissem todas em períodos eleitorais. Foi esta esquerda que fez com que a classe política fosse descendo até abaixo do medíocre.
E esta ideia de que um político, futuro político ou ex-político, não pode investir o seu dinheiro, que é fruto do seu trabalho?
Daqui para a frente, não podemos fazer as nossas aplicações, os nossos investimentos, teremos de condicionar a nossa vida e limitar a nossa própria liberdade só porque poderemos exercer futuramente funções públicas relevantes ou porque o banco pode falir?
Mas que ideias são essas?
Estas ideias merecem ser censuradas pelo voto do povo. E não tenho a menor dúvida de que serão já durante este mês.
Mas há outra situação de que estou fortemente convicto.
Estas eleições, além de representarem o fim da política activa para Manuel Alegre, de se traduzirem numa notável derrota socialista para eleger o chefe de Estado, marcarão o princípio do fim de um partido que deixou de ser “Alegre” para ser…”Anedótico”.
Falo, obviamente, do Bloco de Esquerda.
Depois de terem recusado responsabilidades em Lisboa, este Bloco demonstra resumir-se a um partido do anti-poder. Nesta campanha para as Presidenciais, quando finalmente poderiam sonhar com a eleição de um Presidente da República apoiado pelo partido, o Bloco não faz mais nada: faz da campanha um autêntico desfile carnavalesco, com intervenções completamente descabidas.
A democracia serve para nos governar, para nos representar. Não para obstar à governação.
Serve para construir. Não para fragmentar e acabar com os pilares.
O Estado de Direito serve para manter a ordem. Não para ser destruído.
Portugal é um país, é um Estado soberano com vários séculos de História. Não é um circo.
Por essas razões, estas eleições confirmam que o Bloco de Esquerda já deu o que tinha dar.
Durou, ou durará pouco tempo.
E ainda bem!

1 comentário:

luis cirilo disse...

Estou inteiramente de acordo com a sua análise com uma unica ressalva.
Não acredito que o fim do BE esteja para tão breve como refere o António.
Porque eles tem demonstrado uma notável habilidade parapassar entre os "pingos da chuva" como as autárquicas de Lisboa e estas presidenciais tem demonstrado.
Creio que o declinio deles começará quando numa situação limite (por exemplo uma moção de censura) eles provarem que não servem para nada.
Aí muito do seu eleitorado debandará.
Claro que se os partidos,como o PSD (e dentro dele a JSD),souberem agarrar algumas causas podem ajudar a esse desejável declinio da esquerda caviar