domingo, 23 de janeiro de 2011

Democracia "assim assim"

Os portugueses, de vez em quando, ouvem umas notícias, vindas de territórios longínquos onde os cidadãos não podem votar.
Na notícia, aparecem imagens de pessoas que queriam votar e não puderam. Foram impedidos de exercer esse direito, que muitos dos portugueses, por já o terem dado como adquirido, desprezam.
Exerci o meu direito de voto por volta da hora de almoço. Vi uma fila enorme de pessoas e pensei que era uma mesa de voto muito mais concorrida que as outras. Não era. Aquela fila era de um conjunto de pessoas que não sabia qual era o seu número de eleitor (que, entretanto, mudou sem que fossem avisadas), para que pudessem, depois, votar em consciência.
Achei insólito. Porque ouvi algumas pessoas dizerem que se iam embora. Com o frio que estava, saíram de casa para votar e, muitas dessas pessoas, não votaram.
Não votaram porque não foram suficientemente livres para o fazer. Porque foram criados demasiados obstáculos.
Na rádio, ouvi outra coisa absolutamente insólita. Um responsável sacudir a responsabilidade para cima das pessoas. Segundo ele, se as pessoas se querem dar ao luxo de decidir quem será o futuro Chefe de Estado do país, pois então que se informem.
Fiquei irritado. Havia milhares de pessoas sem saber onde votar. Com frio a aumentar e com o tempo a escassear. Tentaram informar-se, mas não conseguiram. Nem pela net, nem por telemóvel, nem pelas Juntas de Freguesia.
Fui, depois, a outro local, aqui no concelho de Oeiras. Na mesa de voto estava um cidadão que também não podia votar. Tinha mudado de casa, o seu nome não constava nos cadernos e seria impossível que, naquela escola, alguém pudesse dizer onde é que deveria ir votar.
À saída, um homem, num grupo de três pessoas, dizia que já não iria votar.
Ora, isto não aconteceu apenas nestas duas escolas.
Um familiar meu fez 100 km até Lisboa, para votar. Quando chegou ao local normal de voto, não pôde. Disseram-lhe para ligar para um número, que estava ocupado. Não conseguiu saber a tempo, foi-se embora. Mais uma viagem de 100 km até casa. E não votou.
Isto aconteceu pelo país fora no maior bloqueio da democracia desde o 25 de Abril.
Veremos os resultados. Incluindo os resultados da abstenção significativamente influenciados por este triste episódio da democracia portuguesa.
Como as urnas ainda estão abertas, pelo menos para algumas pessoas, não poderemos ainda retirar grandes conclusões. Esperemos tranquilamente pelo resultado dos votos das pessoas que puderam votar.
Mas, amanhã, o país não pode esquecer este "bloqueio" nem pode deixar de exigir, a pretexto dele, as devidas responsabilidades.

1 comentário:

Lamas disse...

Fosse o Governo PSD e teríamos aí TODA a comunicação social mais os partidos de esquerda a clamar por FRAUDE e a pedir repetição das eleições.