sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O Sentido da minha reflexão sobre Lisboa


Conforme disse no post anterior, aproveitei esta semana para descansar, reflectir, estudar e, no tempo que restou, analisei os resultados eleitorais para as autárquicas em Lisboa.
Analisei freguesia por freguesia, mesa de voto por mesa de voto e a minha conclusão coincide com as conclusões retiradas por várias pessoas com quem tenho falado. António Costa foi eleito Presidente da Câmara Municipal de Lisboa porque às pessoas que votaram por convicção no Partido Socialista para a presidência da autarquia ainda se juntaram as pessoas que tinham preferência por uma esquerda mais extrema mas que acabaram por recorrer à opção do voto útil no Partido Socialista.
Entre o primeiro grupo de pessoas, ainda havia os lisboetas que, com mais ou menos convicção, apoiaram o acordo coligatório entre Roseta e Costa.
Em suma, a lista que teve maioria para a Câmara Municipal teve essa maioria graças a três grupos de pessoas: os apoiantes e seguidores de Roseta, os que tinham a convicção de que António Costa seria melhor Presidente da Câmara e aqueles que, pura e simplesmente, apenas não queriam que Santana Lopes fosse Presidente. Curiosamente, estes últimos, à volta de catorze mil eleitores, foram quem fez a diferença.
Não quero, com isto, pôr em causa a legitimidade da vitória de António Costa. Porque todo o voto, que assente nos pressupostos da liberdade e da democracia, legitima, de facto, uma vitória eleitoral. Não é isso que está em causa.
Em causa estão 39% de votantes em Lisboa que queriam mesmo que Santana Lopes fosse o seu Presidente. Que queriam mesmo que o Programa para a cidade fosse no caminho de uma Lisboa com Sentido.
Entre estes 39% só há um grupo de pessoas. Os que queriam Santana. Os que o apoiavam. Os que se reviam nele e no seu programa.
E 39 não é 10, 12, 15 ou 20. É quase 40.
Não querendo condicionar nem pressionar ninguém, porque cada um escolhe de acordo com a vida que projecta e que quer para si, não posso deixar de dizer que as diferenças programáticas entre as duas candidaturas mais votadas são, de facto, enormes.
Não pode ser por 5% (de diferença) que Lisboa siga apenas um caminho: o de ficar sem aeroporto, o de ter contentores à beira-Tejo, o de não pôr fim ao trânsito caótico, o de não apostar na higiene urbana, o de não investir na mobilidade, acessibilidade ou o de não acabar com as barreiras arquitectónicas. Fora todas as outras propostas de resolução de problemas antigos da cidade ou de melhoria da qualidade de vida dos lisboetas, que constavam do programa eleitoral de Pedro Santana Lopes.
No meio desta reflexão cuidada, aconteceu um episódio curioso. Em plena Universidade Católica, perto do edifício de Direito, onde estudo, vi uma carrinha de uma empresa municipal com dois funcionários. Foi na terça-feira. Por volta das três e meia da tarde. À frente da carrinha levavam uma bandeira da coligação “Lisboa Com Sentido”. Isto aconteceu dois dias depois das eleições, o que demonstrava que, também para aqueles dois funcionários municipais, o “assunto Lisboa” ainda não estava enterrado. Aquela continuava a ser, também, a bandeira deles.
Este episódio, juntado a tantos outros e a tantas conversas que fui tendo, só reforça a ideia de que quem votou Pedro Santana Lopes o fez com muita convicção, com conhecimento do que estava em causa. Fê-lo porque queria mesmo muito fazê-lo.
Feita esta análise, importa repetir que não está em causa a legitimidade do Presidente da Câmara eleito. Mas é importante que quem foi eleito tenha a consciência de que existe uma grande legitimidade nas propostas da oposição, algumas delas coincidentes com as propostas (que o eram e que agora possivelmente deixarão de o ser, sabe-se lá porquê) do movimento de Helena Roseta.
Em relação a todas as outras possíveis conclusões a que esta análise poderia levar, nada mais posso dizer. Porque todos terão tempo para continuar a fazer a sua própria análise e a reflectir. Pois que continuemos a reflectir. Até porque o passado já demonstrou que decisões precipitadas e tomadas à pressa nunca apontaram para o caminho certo. E o caminho que quero para Lisboa é o mesmo que sempre tenho querido. O caminho de uma Lisboa Com Sentido.

4 comentários:

Anónimo disse...

É curioso porque quem vai decidir o futuro de Lisboa, a par do PSD/PP/MPT/PPM, é Roseta! Ela é que vai ser decisiva e atenção que a CML pode caír a qualquer momento. Basta que ela, os dela, o Ruben e a coligação LCS decidam de forma diferente do que António Costa.

Cumprimentos, PMC

maria disse...

Muitas vezes lamento não conseguir escrever o que penso...o que me vai na alma...sei o que quero, mas é mais fácil falar que escrever, pelo menos uma escrita que faça algum sentido e que seja entendida por quem me lê...mas não tenho essa capacidade.

E depois pergunto: lamentar para quê??? É para isso que existe o "Tenho Dito".

Hoje ao ler este post, até parece que falei consigo ou que o António leu o meu pensamento...é por tudo o que escreve que me dá tanto prazer vir cá :)

Concordo com tudo o que disse neste post e não mudo uma vírgula...Parabéns!

Bjs :)

PEDRO QUARTIN GRAÇA disse...

Excelente texto. Parabéns!

Anónimo disse...

Caro António:

É a segunda vez que comento num blog. Conheci o seu através do site da Lisboa Com Sentido e só o vi uma vez na vida, no Principe Real com uma cara concentrada e até um pouco emocionada no exterior da sede enquanto ouvia o discurso...
Você que estava tão dentro daquele sentimento da candidatura naquele momento deixe-me que lhe diga que não é um político - é demasiado bom, demasiado apaixonado por causas para ter uma vida carregada de nervos!!
Esta sua análise ao que se passou em Lisboa é como que um passar para o papel daquilo que sinto! Deixe-me dizer-lhe que chorei quando li "um dia triste", comoveu-me muito e li-o até escrever este post em voz alta!!!
Porque não escreve um livro? Só gostava de lhe fazer uma pergunta: tirou jornalismo? Se tirou, seja jornalista e não se meta na política porque na política os rapazes de bom coração só podem sofrer!
Veja o dr. Santana Lopes o que lhe fizeram por ser bom! Na política exploram até à exaustão os defeitos de cada pessoa: fizeram isso com Durão Barroso, Marcelo, Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite e Santana Lopes que têm defeitos diferentes!
Pense que o Primeiro-ministro continua a ser Sócrates que nem engenheiro é, que Sá Fernandes foi eleito e vai ter pelouros em Lisboa e que com a política só ganham os Armandos Varas, os Jorges Coelhos e os Paulos Pedrosos. Não gostava nada de ver o seu nome e a sua pessoa sofrerem para que esta gente se governe!
Parabéns pelo blog, pela sua escrita, pelo seu lado humano e por ser um rapaz cheio de talento, não deixe de lutar pelo que acredita mas não se exponha demasiado porque
"Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer". (fernando pessoa)
Considere isto como um aviso de uma pessoa que tem filhos da sua idade e que é tão boa pessoa quanto o António!
Um beijinho de uma anónima que gosta de o ler.