domingo, 19 de junho de 2011

Fernando Nobre


Fernando Nobre, toda a gente o sabe, candidatou-se à Presidência da República, depois de uma campanha onde, não raras vezes, se insurgiu contra os partidos e contra os deputados.
Parece-me justo que, agora, apenas meio ano depois, os deputados e os partidos não vejam com bons olhos a eleição de Nobre a presidência da AR.
Mas é importante descrever a conjuntura em que Nobre disse o que disse. Num cenário em que era expectável a reeleição de Cavaco à primeira volta, Nobre, para não fracassar depois do anterior sucesso de Alegre sem apoio partidário, para ganhar votos, foi forçado a assumir-se como a voz de uma sociedade civil descrente e desconfiada em relação aos partidos representados no parlamento.
Apesar do exemplo de vida, a força da abstenção, a união de quase toda a esquerda numa candidatura única e a probabilidade da vitória de Cavaco não davam espaço para que Nobre pegasse noutros argumentos. Foi por isso que Nobre disse o que disse há seis meses.
Tenho dito que quem está contra os partidos deve vir para os partidos, porque, até prova em contrário, é dos partidos que sobrevive a nossa democracia. Daí que não condene o facto de Nobre ter sido candidato por um partido, sendo, agora, o candidato do PSD à presidência da Assembleia da República.
Olhando, porém, de outra perspectiva é sempre condenável que se diga e depois se desdiga. Assim, por um lado, foi o "nunca digas nunca" que provou que Nobre não é um político. Por outro, o dizer e desdizer torna-o igual a muitos dos nossos políticos.
Podemos também olhar para o passado de Fernando Nobre. Se, por um lado, não tem qualquer experiência parlamentar, por outro, pode muito bem vir a ser o factor novo de que Portugal precisa a esse nível.
Porém, acima destas análises que se contradizem consoante as perspectivas está a votação dos cidadãos do distrito de Lisboa e de todo o país que, votando no PSD, sabiam que estavam, também, a ajudar a eleger Fernando Nobre como presidente da Casa da Democracia Portuguesa.
Os portugueses sabiam que, se o PSD ganhasse as eleições, Passos Coelho seria Primeiro-Ministro. Sabiam também, pela lógica das coisas, pelas informações prestadas pelos responsáveis do partido, pela normalidade de todos os partidos aceitarem que a escolha do Presidente da AR cabe ao partido mais votado, que Fernando Nobre seria o Presidente da AR, apresentado e apoiado pelo grupo parlamentar social-democrata.
Ora, o povo é soberano. O povo sabia e o povo votou.
E porque assim foi, e porque vivemos em democracia, Fernando Nobre deverá mesmo ser eleito Presidente da Assembleia da República.

3 comentários:

Anónimo disse...

Os eleitores de lisboa votaram na lista encabeçada por Nobre para o Parlamento. Os eleitores portugueses não votaram no Nobre, logo é sofrível fazer extrair conclusões sem apoio fático. Nobre não só não deverá ter o voto dos não psd mas também não deverá ter os votos de alguns do psd. Nobre deveria simplesmente não concorrer à presidência do Parlamento. Todos ganhariam, Portugal ganharia.

António Lopes da Costa disse...

Bom dia.
De facto, votar no PSD não é, ou não é só, votar em Fernando Nobre para presidência da AR. Mas é uma consequência eventual do voto no Partido Social Democrata.
Os portugueses sabiam isso, foram informados disso e, enquanto a eleição do Presidente da AR continuar a ser feita pelos partidos após as eleições, vamos ter de continuar a fazer interpretações extensivas do voto maioritário dos eleitores.
Neste caso, a vontade da maioria dos eleitores recaiu sobre o PSD e, consequentemente também, sobre Fernando Nobre.
Nesse sentido, creio que os deputados não devem defraudar as expectativas dos cidadãos, depois de serem informados por Passos Coelho de que, se o PSD ganhasse as eleições (e mesmo em coligação com o CDS), Fernando Nobre seria o candidato a presidir a Assembleia.
Por isso, reitero aquilo que disse. Por muitos contras que existam, deve ser respeitada a vontade dos portugueses e de Passos Coelho, líder do PSD, em quem os portugueses votaram maioritariamente.

Cumprimentos

Anónimo disse...

O Povo também há 2 anos votou para o Sócrates governar 4 anos e não 2!

Às vezes é difícil perceber o que o povo quer...Ou de outro ponto de vista, o que o povo quer é um bocadinho disto, outro bocadinho daquilo, não o todo...