quarta-feira, 8 de junho de 2011

A guerra da sucessão


A sucessão de José Sócrates é muito mais complexa do que parece. Não se trata, agora, de substituir um secretário-geral por outro.
Trata-se de encontrar internamente uma solução para um problema sucessivamente adiado pelos socialistas, de preencher um espaço que nunca foi questionado a nível interno, de encontrar alguém com perfil para suceder a um homem que secou tudo o que tinha à sua volta.
A necessidade de sucessão surge após uma derrota muito mais pesada do que as piores expectativas, derrota que veio depois um período de seis anos de governo, dos quais quatro e meio foram de maioria absoluta.
A conjuntura é exigente. Existe uma maioria absoluta de direita, um Primeiro-Ministro legitimado por uma grande maioria de portugueses e o papel do PS será um papel complicado, dado que é o PS, e nenhum outro partido, o responsável pelo pedido de ajuda externa e, consequentemente, pelos sacrifícios que terão de ser exigidos aos portugueses.
Não tendo nenhuma margem para fugir às suas responsabilidades ou ao compromisso que que o governo socialista assinou, o próximo líder do PS apenas poderá afirmar-se com propostas muito concretas que, não comprometendo o cumprimento das obrigações nacionais perante os credores, possam esboçar um caminho diferente, alternativo e igualmente viável. Porque, quanto ao resto, o PS dos próximos tempos terá de ser um partido responsável e cooperante.
Nestas circunstâncias, sempre me pareceu evidente que António Costa não se candidataria a estas eleições, apoiando outro candidato da mesma linha contra António José Seguro, que anda há muito tempo a preparar-se para liderar.
Provavelmente, teremos, agora, uma disputa entre Francisco Assis e Seguro. Mas esta será uma liderança apenas transitória, porque se pressente que, seja quem for o líder que vier a suceder a José Sócrates, nas próximas eleições legislativas, sejam elas quando forem, o candidato socialista a Primeiro-Ministro vai ser mesmo António Costa.
Essa é a estratégia que está na cabeça de muitos dos responsáveis socialistas. Há, todavia, um pequeno "senão". É certo que foi esta a estratégia que derrubou uma maioria legítima de direita e que devolveu, ao PS, a maioria absoluta. É também certo que, no que toca à política, o povo tem, muitas vezes, memória curta. Mas o PSD e o CDS aprenderam bem a lição. E, se Seguro ganhar as eleições internas, será muito mais difícil substituí-lo do que muitos socialistas pensarão.
São muitas contas, muitos cenários, muitas complicações.
Sócrates deixou o país no buraco. E foi também no buraco que Sócrates deixou o Partido Socialista.

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