segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Um dia triste


Estaria a omitir uma verdade se não dissesse que este dia é, para mim, um dia muito triste. Porque é. Um dos dias mais tristes.
E é assim porque sempre estive absolutamente convicto, desde 2005, de que Pedro Santana Lopes era o homem ideal para estar à frente da Câmara Municipal de Lisboa. Sempre acreditei que, com ele ao leme, Lisboa seria uma capital muito mais viva, muito mais humana, muito mais dinâmica. Uma capital que oferecesse amplos espaços verdes aos seus habitantes. Uma capital que conseguisse, com coragem e determinação, resolver problemas muito antigos. Uma capital que oferecesse, aos jovens, condições para nela fazerem a sua vida. Uma capital que soubesse revitalizar a cultura e assumi-la verdadeiramente. Porque Lisboa sem cultura não é Lisboa. Com tudo isso, valorizando até ao limite a sua relação com o Rio e não abdicando de ter um aeroporto internacional, Lisboa seria, acredito eu, uma cidade capaz de competir com as mais poderosas, ricas e apelativas capitais europeias.
Esta minha dor profunda de derrota é agravada pelo facto de eu me ter, desde Fevereiro, motivado muito com as ideias centrais do programa da candidatura encabeçada por Pedro Santana Lopes. Acreditei e continuo a acreditar nelas. Acho que estava ali o melhor para Lisboa. E tudo fiz, desde Fevereiro último, para que aquelas fossem as linhas orientadoras de quem fosse governar a cidade.
Tudo fiz. E tudo voltaria a fazer. Mas não chegou. Não chegou por várias razões que nada têm que ver com o programa ou com o candidato em si. E não vale a pena falar, agora, nessas razões. Porque são várias e exigem uma maior reflexão.
Um aparte para dizer que, ao contrário do que aconteceu em todas as outras eleições, não felicito o vencedor. E se não o faço não é por deixar de respeitar a vontade popular, mas porque, há pouco, ouvi um discurso arrogante e um autêntico pisar dos derrotados que não estão, em nenhum ponto, de acordo com aquilo que considero ser a ética democrática. Só por isso, porque o povo é soberano.
Dizem que se aprende muito nas derrotas. Talvez seja ainda cedo para perceber se aprendi alguma coisa. O impacto foi, de facto, para mim, muito grande. Reconheço isso. Não sei se vou aprender alguma coisa. Mas sei que aprendi muito, sobretudo, nos últimos seis meses. E que, apesar desta tristeza quase infinita, não deixo de estar de consciência tranquila. Porque acredito que, quando for mais velho, vou poder dizer aos meus filhos e netos, se os vier a ter (como espero), que, numa determinada altura da minha vida, acreditei num homem bom, verdadeiro, empreendedor, sonhador e dinâmico e que apoiei aquele programa eleitoral. Vou-lhes dizer que perdi. Mas que fiz o que estava certo. Que dei o meu melhor por aquilo. Com muito suor, alguns nervos, mas com muita, muita determinação.
Quando lhes contar esta história, vou-lhes dizer que, neste caminho longo, conheci pessoas boas. E, neste ponto, não posso deixar de elogiar a lealdade, o trabalho, a solidariedade e a amizade de um homem excepcionalmente bom chamado João Marrana. Que merecerá, se o futuro for justo e tão bom quanto ele, vir a desempenhar, como responsável número um, funções sociais na Cidade.
Neste trajecto conheci outras pessoas boas, que olhavam para esta candidatura, não como uma luta, mas como uma causa. Pessoas que, na sua esmagadora maioria, estavam ali por motivos extra-partidários.
Resta-me saber se o trajecto acabou, de facto, nesta noite. Não sei e é muito cedo para saber. Para já, custa-me a acreditar que seja. Porque há quase 39% das pessoas que votaram em Lisboa a pensar como nós. Se não houvesse o voto útil e um acordo coligatório com o único objectivo de manter o tacho, provavelmente estaríamos a falar de outro cenário bem mais feliz para a capital do meu País. Fora outras razões que, por querer dar a este texto um final feliz, não importam para agora.
O que importa é pormos, todos, o egoísmo de lado e darmos, uns aos outros, o devido tempo para que possamos reflectir. Sem ruídos de fundo que possam perturbar esta reflexão, que precisa de ser feita. E que não pode incidir apenas sobre o resultado obtido em Lisboa.
Aproveitemos os próximos tempos para descansar. E aproveitemos o descanso para reflectir. Não esquecendo o sonho, não esquecendo o trabalho, não esquecendo o nosso empenho. Sempre com a consciência tranquila de quem cumpriu o seu dever. Voltaremos a falar de Lisboa. Com a confiança de sempre mas com ainda mais determinação. Até porque assim tem de ser quando alguém acha que faz aquilo que está certo.

7 comentários:

Hugo Correia disse...

Caro António Lopes da Costa,

Partilho da tua tristeza. Também achei que foi uma derrota minha, mesmo não votando em Lisboa. Os resultados são para se respeitar mas todos sabemos que o terreno para Santana Lopes está sempre muito inclinado, esta candidatura teve que escalar a tal encosta, mas o muito trabalho e esforço não foi suficiente para chegar primeiro. De realçar o trajecto brilhante, praticamente sem erros, que esta candidatura trilhou desde Fevereiro, mais visível a partir de Março. Eu pergunto: como é possível não vencer com todo este planeamento e qualidade do conteúdo progamático? As outras candidaturas estiveram a anos-luz e não vale apena dizerem o contrário, mesmo. Para mim a resposta é simples, Lisboa está doente, o país está doente. Os lisboetas e portugueses em geral queixam-se e queixam-se, depois quando podem decidir a mudança de rumo preferem deixar tudo como está, preferem continuar doentes. Uma palavra agora para o nosso candidato, é impressionante, é emocionante a força que transmite na hora da derrota. Não desmoralizes que Pedro Santana Lopes mais uma vez se vai levantar.

Um homem que também chora,

Hugo Correia

maria disse...

Junto a minha tristeza à sua...foi uma noite muito triste mesmo.

Apesar de confiar na vitória, tinha receio das armadilhas que estavam montadas...não fossem elas e acredito que o resultado seria outro...infelizmente para todos que sabem que Pedro Santana Lopes seria o presidente certo, o presidente que Lisboa precisa.

Também eu não dei os parabéns ao vencedor...ele não merece e muito menos depois do discurso ordinário e de muito mau gosto que fez...bem, outra coisa não seria de esperar de um homem como ele...

Votei numa Lisboa Com Sentido e vejo-me agora numa Lisboa à deriva e nem quero pensar no que vem por aí...

Lisboa e os lisboetas perderam!

Estou triste, muito triste :(

Bjs :)

João Santos disse...

Já somos dois, tristes!

Agora temos de analisar o porquê desta aberração. Quando Pedro Santana Lopes conseguiu há 8 anos uma vitória impensável, foi torpedeado por alguém (alguéns?)que apenas pensavam em destruir, por dentro o PSD. Arranjaram um outro candidato, que se valeu da onda laranja de Santana, depois fizeram cair a lista, obrigando todos os candidatos a renunciar aos mandatos.

Agora a reconquista seria sempre difícil e o PS não largaria 'o osso' na véspera das comemorações da 1ª república.

Vv a «venerável irmã» Paula Teixeira da Cruz e o outro venerável conhecido por Short...

Agora os PSD's têm de pensar se querem ser regidos por representantes (toupeiras) do PS; se querem servir para se pensar que há democracia e/ou liberdade de escolha;

OU se querem ser um partido que pensa por si!

Anónimo disse...

Os meus parabéns pela sua análise. Concordo inteiramente consigo. Foi pena! Também estou triste.

Unknown disse...

Grande António! Estamos todos tristes... Mas não podemos desanimar porque a vida é mesmo assim.

Mariana

PEDRO QUARTIN GRAÇA disse...

Um texto muito bonito e sentido.Partilho dos seus sentimentos.

Alexandre Poço disse...

A sua tristeza é também a minha. Mas a vida continua e não desistiremos de tentar fazer de Lisboa uma grande cidade, uma cidade com sentido, um cidade que só teria a ganhar se domingo tivesse escolhido Santana Lopes para Presidente da Câmara. Excelente texto!

Abraço