terça-feira, 31 de março de 2009

A bandalheira


Eu acho piada às pessoas que dizem que José Sócrates é corajoso. Dizem que é mentiroso, que não cumpriu, que governou mal, que deixou as reformas a meio, que exerceu o poder com autoritarismo, que exerceu enormes pressões, que quis controlar a comunicação social, mas que é corajoso. A sério que acho piada. Porque ao que algumas pessoas chamam de coragem, eu defino como desvergonha.
Hoje, temos uma suspeita generalizada sobre a pessoa do nosso Primeiro-Ministro e atrevo-me a dizer que existe apenas uma maioria absoluta, que é a dos portugueses que desconfiam, ou pelo menos duvidam, de José Sócrates.
O Caso Freeport pode vir a ser, na minha opinião, a última cena de um sistema político perversamente controlador de tudo e de todos, querendo imiscuir-se no que pertence ao poder judicial. A ideia que todos temos é que nos querem esconder alguma coisa: que a investigação só existe por força do trabalho da Justiça britânica, que todos querem encobrir qualquer coisa, que se pretendem esconder os elementos que podem, ou devem, levar a que Sócrates seja constituído arguido. Todos nós já vimos diversos casos em que pessoas já foram constituídas arguidas por menos. Será que os elementos que temos, pelo menos os que foram conhecidos via comunicação social, não são suficientes?
De uma vez por todas, devemos perceber que elementos determinantes para uma sentença não podem ser juridicamente irrelevantes. Porque a prova deveria ser, supostamente, tudo aquilo que permite concluír se uma pessoa é culpada ou inocente. Ou pelo menos se é, ou deve ser, ou não, constituída arguida.
Até quando é que o Partido Socialista vai poder confundir as pessoas? Até quando é que se vai conseguir iludir as pessoas? Até quando é que o país aguenta isto?
Mas há outros exemplos desta bandalheira.
Será normal vermos um Ministro de Estado, semanalmente, a falar num canal de televisão, como comentador político, sobre o processo Freeport? Será normal que esse ministro, no Governo apenas sirva para fazer a propaganda? Será normal um ministro, que é sociólogo, dizer a um advogado que este não percebe nada do que é um Estado de Direito? Mas o que é isto? Onde é que queremos chegar?
Por fim, gostava de dizer que outra coisa a que acho piada é ao facto de todos ficarem espantados e divulgarem os artigos de Mário Crespo. Todos conhecemos, uns melhor e outros pior, esse jornalista. E o que Mário Crespo escreve é o normal. Fá-lo de forma independente e pauta-se pela verdade dos factos. Só que se não é o único verdadeiramente independente e verdadeiro, está entre um grupo restrito de jornalistas que segue os ideais do que deve ser uma imprensa livre. Por isso, damos-lhe muita importância. Porque é um. Que não é da bandalheira. Nem se revê nela. E ainda a critica, com a agressividade devida.
A propósito das perguntas, há três, muito simples, que eu gostava de fazer: Será que poderemos aguentar muito mais tempo um país em que ninguém acredita nem confia na Justiça? Será possível o conformismo perante uma comunicação social visivelmente dominada por uma enorme máquina de interesses? Será que é viável um país em que existe uma desconfiança generalizada de que somos governados por corruptos?



NOTA: O link para o artigo de Mário Crespo é de um blogue e não do jornal onde o jornalista escreveu o referido artigo, dado que o JN, na página onde deveria estar o artigo vinha escrito que "Lamentamos, mas ocorreu um erro que nos impossibilita de mostrar a página pretendida". Coincidência ou mais um sinal da bandalheira?

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