domingo, 17 de janeiro de 2010

O PSD, o Congresso e os contras


Em Portugal, ouvimos muito a expressão “contra tudo e contra todos”.
Sempre que o Benfica ou o Porto ganham qualquer coisa e o seu presidente fala, dizem que ganharam “contra tudo e contra todos”.
Nos sites onde são permitidos comentários aos leitores, sobretudo os sites de notícias, os que comentam usam, incessantemente, a palavra “contra”. Contra este e contra aquele.
Lembro-me também, quando recapitularam a vitória do PSD nas europeias, que se valorizou o facto da escolha do cabeça-de-lista ter sido feita “contra a vontade” de várias pessoas.
Seremos um país que tem de ser mesmo “do contra”?
O Hino, algo que nos une a todos e faz explodir, em cada um de nós, o amor por Portugal, termina com “contra os canhões, marchar, marchar”.
A notícia nacional dos últimos dias conta-nos a disponibilidade de um homem que se candidatou a Presidente da República…contra Mário Soares. Quer agora ser o candidato do PS contra Cavaco Silva. Apesar de já ter sido candidato contra o próprio PS.
O PSD, como o resto do país, tem vivido nesta base “do contra”. Este está contra aquele e aquele está contra o outro. As bases estão contra as elites. E dentro das elites há os tais barões que estão sempre uns contra os outros.
Nos últimos tempos, falou-se de uma recolha de assinaturas para a realização de um Congresso. Logo se falou das várias pessoas que estão contra. Contra as assinaturas ou contra o Congresso. Há sempre alguns que estão só contra a pessoa que tomou a iniciativa.
Parte dos que estão contra o Congresso, justificam essa postura do contra por desejarem eleições directas rapidamente.
Nas directas, o partido anda dividido. Quem vai contra Passos Coelho?
Eu não sou contra o Congresso, nem sou contra Passos Coelho, nem contra as elites, nem contra as bases, nem contra isto ou aquilo, este ou aquele, ou aqueloutro.
Já chega!
A esmagadora parte dos portugueses está contra aquilo que se passa no PSD.
E o facto de não conseguirmos vencer a um Governo muitíssimo contestado por oito décimas dos portugueses acaba por ser, isso sim, contra-natura.
Uma das assinaturas para o Congresso é a minha. E assinei, não pela admiração que tenho por quem as promoveu (apesar de também a ter), mas por duas razões.
A primeira é a de que o PSD não pode continuar a ser um partido sem causas, em completo desnorte, sem pontos que possam ser imediatamente reconhecidos pelos portugueses.
A segunda é a de que o partido não pode continuar a viver nesta lógica, em que metade está contra a outra metade ou em que um terço está contra os outros dois terços, e vice-versa.
Não pode haver, em dois anos e por força da alteração do líder, uma mudança radical ao ponto do discurso do PSD, num ano, ser radicalmente contra aquele discurso que tinha sido adoptado no ano anterior.
Isso só acontece por causa da primeira razão: verdadeiramente, neste momento, o PSD (visto no seu todo) não sabe bem o que quer, não sabe o que pensar, não sabe o que fazer, mas, acima de tudo, não chega a saber muito bem quem é.
Isso é grave. E não pode continuar.
Por isso, o Congresso é ideal para que o PSD possa reencontrar a sua identidade, a que nos une a todos.
O líder? Qualquer que seja o líder, neste momento, terá, mesmo dentro do partido, uma boa parte de pessoas contra ele.
Até relativamente à futura liderança, o Congresso poderá ser produtivo.
Pessoalmente, gostaria de ouvir Passos Coelho. Se houvesse hoje eleições directas e se fosse candidato único, eu, possivelmente, votaria em branco. Digo-o com franqueza. Não o conheço, não sei o que quer e o Congresso, pelo seu impacto e não só, poderá ser uma boa oportunidade também para ele se apresentar, a si e ao seu projecto, para o partido e para o país, e mobilizar o PSD em torno deles.
Teria todo o gosto em ouvi-lo. A ele e a todos os outros. Os que querem ser líderes e os que não querem.
Repito. Já chega! Chega de tantos contras!
Nem o PSD nem o país aguentam esta situação muito mais tempo!
Vamos ouvir-nos uns aos outros! Vamos encontrar os pontos de união!
E se não conseguimos viver sem os contras, então que façamos isso contra o orgulho excessivo de cada um de nós.

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito deste post, particularmente da frontalidade com que falaste de Passos Coelho. Eu não estou muito convencido quanto aos possiveis candidatos e de Passos Coelho apenas ouvi umas ideias avulsas semelhantes às bizarrias de alguns dos seus possíveis antecessores.
Escolher nesta conjuntura um lider só vai servir para que esse lider se queime. Eu não sou militante do PSD nem de nenhum partido mas voto sempre no PSD ou no CDS e seria importante um PSD unido para revitalizar a direita portuguesa.

luis cirilo disse...

António dou-lhe os mais sinceros parabéns pela enorme qualidade da sua reflexão.
Especialmente por vir de alguém tão jovem.
Mas que já viu do PSD o suficiente para perceber que é preciso mudar muita coisa dentro do partido.
A começar pela atitude que se cristalizou ( o tal ser "contra") no espirito dos militantes.
Até parece que para se ser por alguém tem simultâneamente que se ser contra alguém!
E não é assim.
Creio que temos de ser pelo nosso partido e contra,isso sim, os graves problemas de Portugal que o PS não sabe resolver.
Pessoalmente, e completando na proxima quinta feira (dia 21)35 anos desde o dia em que me filiei na JSD,já vi muita coisa.
Mas raramente vi o partido tão fragilizado,tão sem causas,tão pouco apelativo para a imensidão de portugueses que não se revê neste governo.
Concordo com o congresso.
Já o afirmei várias vezes.
Porque o partido precisa de debater,de reflectir,de construir ideias.
O congresso por si só não resolve tudo ?
Claro que não.
Mas não fazer nada é que não resolve de certeza.
E,por outro lado,tenho imenso respeito pelos milhares de militantes que contribuiram para a sua convocação.
Porque,fui assim ensinado,respeito sempre os meus companheiros de partido mesmo quando não concordo com eles.
E neste caso até concordo!
Quanto á liderança é uma questão a ver depois.
Quando os outros candidatos a candidatos tiveram a frontalidade de Passos Coelho e anunciarem que estão disposto a ir a votos.
Porque para já apenas vejo calculismo,tacticismo,grupinhos defensores de interesses muito proprios.
Aguardo para ver.
E para decidir.
Valorizando,contudo,quem fala claro.

João vF disse...

Caro Antonio, fantástico post. Subscrevo-o.