domingo, 25 de abril de 2010

25 de Abril...sempre?


Eu não vivi no Portugal antes de Abril.
Nem sequer vivi o 25 de Abril de 1974. Só nasci 14 anos depois.
E a mim, confesso, pouco me diz esta cerimónia de um país que demonstra estar preso ao seu passado, incapaz de aceitar um período significativo da sua História, sempre demasiado preconceituoso.
Não vivi o Império Português. Não sei como era. Nunca me foram explicados quais foram os erros. O Portugal em que vivi e continuo a viver é um país pobre, pequeno, sem qualquer poder no mundo, sobretudo no mundo português. Aliás, vivo num Portugal que cede ao resto do mundo português.
Não vivi num país que tivesse como base uma educação exigente. O Portugal em que eu vivi era e continua a ser um país facilitista, incapaz de dar oportunidades aos que frequentam a sua Escola. Vivo num país onde não existe autoridade nas escolas.
Não vivi num Portugal que promovesse o culto ao país e que assentasse em valores sólidos como "Deus, Pátria e família". Vivo num Portugal sem valores, que despreza o papel da Igreja, que está contra a família tradicional e que, pelo fracasso das políticas de educação e pela inexistência de políticas de cultura, não incentiva o orgulho em sermos portugueses.
Não vivi num Portugal sem a Coca Cola. Sempre bebi Coca Cola. E que bem sabe a Coca Cola. E, neste país onde se tem o privilégio de se poder beber Coca Cola, a esmagadora maioria das empresas (sobretudo as PME's) não tem qualquer hipótese de se mostrar competitiva no mercado.
Vivi sempre num Portugal integrado na Europa. Mas num Portugal que nunca soube aproveitar essa integração.
Vivi sempre num Portugal em crise.
Vivi e continuo a viver num país que não dá oportunidades, que não cria empregos, que não produz riqueza, que é corrupto, onde a Justiça não funciona, em que o jornalismo não é independente dos interesses políticos e partidários.
O Portugal em que sempre vivi tem sido sempre um péssimo juíz, um político incompetente, um polícia inconsequente, um médico apenas anestesista, um legislador desastrado, um professor sem autoridade, um funcionário completamente desqualificado, um jornalista (relativamente) livre mas conivente...
Tem sido um país sem visão, que não faz ideia do que é ordenamento do território, que viveu sempre acima das suas possibilidades.
Este é o Portugal em que vivi.
E, presos aos seus preconceitos, os políticos não sabem dizer aos portugueses que se pudessem voltar a 1973, 1974, mesmo a 1975 ou daí para a frente teriam feito muitas coisas diferentes.
O 25 de Abril serve apenas, repito, para renegar um período significativo da História de Portugal. E para ocultar os erros cometidos desde que esse período da História passou a ser só História. Além do que se quis, de facto, fazer no 25 de Abril.
Quando olho para este país, vejo que continuam a existir, ainda que de forma travestida, várias daquelas que eram as características do Estado Novo.
Hoje, 36 anos após o 25 de Abril, deparo-me com um regime onde existem protegidos e com um país pobre, pequeno, endividado externamente, onde, de forma sumária, se pode dizer que tudo está por fazer, onde a democracia continua a não funcionar plenamente.
Mais do que ajustar contas com o que aconteceu há mais de 36 anos, Portugal precisa hoje de perceber o que, nos 36 anos já passados, correu mal. Porque, não sendo politicamente correcto dizê-lo, o Portugal de hoje, 36 anos anos depois de Abril, está péssimo. E ninguém pode fugir às suas responsabilidades.
Na minha opinião, não fazem, portanto, qualquer sentido estas comemorações do 25 de Abril. Ainda para mais porque a democracia e a liberdade dever-se-iam festejar num outro 25, dia em que a liberdade e a democracia foram verdadeiramente repostas.

4 comentários:

Anónimo disse...

Está na altura de seres tu a fazer qualquer coisa... é muito fácil escrever um blog mas fazer realmente qualquer coisa para mudar o pais está nas tuas mãos!!!! Dinamiza um grupo de amigos teus e tentem perceber o que podem fazer para ajudar Portugal. Já chega de tantas críticas! Está na altura de agir, de ajudar o próximo! Falas dos valores sólidos como Deus, mas não te vejo praticá-los. Sabes o que é ser católico e quais são os compromissos que envolvidos nesta tua escolha? Se calhar é por isso que não entendes um dos seus princípios básicos: Dar sem querer receber! Porque é assim que Deus nos ama, sem querer nada em troca!
Crise é para quem não vai à procura das oportunidades, crise é para quem se lamenta, crise é para quem fica de braços cruzados à espera que o estado o subsidie.
Está na altura de perceberes que não podemos ficar à espera dos outros nem do estado. O estado não é nosso Pai!
És tu quem tem que criar as oportunidades, és tu quem tem que criar empregos, és tu quem tem de produzir riqueza!
E mesmo assim o estado ajuda! Existem milhares de subsídios para milhares de coisas…desde o subsídio por não trabalhares passando pelo subsídio da criação de emprego, criação de postos de trabalho, subsidio à formação, subsídio à inovação, subsídio etc etc etc….é só procurares ;)
Falas também no teu blog que se voltássemos a trás teríamos feito muitas coisas diferentes. Acho normal…Na tua vida não existe nada que se pudesses voltar a trás não terias feito de forma diferente? Depois de sabermos o futuro é fácil dizer que se calhar teria feito de outra maneira…
O 25 de Abril significa liberdade, um dos valores mais importantes que existem no mundo. Sabes quanto vale e o que significa? Imagina o que seria se Socrates tornava-se agora um ditador e retirava-te o poder de escrever e dizer o que quisesses. Como te sentirias? Sentias-te livre? Deixo-te aqui este repto.

Salvador Mathias disse...

O meu pai diz que o nosso país é hoje uma colónia de Bruxelas, que nos
dá esmolas para nós conseguirmos sobreviver, pois os tais Capitães de
Abril reduziram Portugal a uma «pobreza franciscana» e que o nosso país
já não nos pertence e que perdemos a nossa independência.

Perguntei-lhe se ele já ouvira falar de Mário Soares, Almeida Santos,
Rosa Coutinho, Melo Antunes, Álvaro Cunhal, Vítor Alves, Vítor Crespo,
Lemos Pires, Vasco Lourenço, Vasco Gonçalves, Costa Gomes, Pezarat
Correia... Não pude acrescentar mais nomes, que fixara com enorme
sacrifício e trabalho de memória, porque o meu pai começou a vomitar só
de me ouvir pronunciar estes nomes.

Quando se sentiu melhor, disse-me que nunca mais lhe falasse em tais
«sacanas de gajos», mas que decorasse antes os nomes de Vasco da Gama,
Pedro Álvares Cabral, Diogo Cão, D. João II, D. Manuel I, Bartolomeu
Dias, Afonso de Alburquerque, D. João de Castro, Camões, Norton de
Matos, porque os outros não eram dignos de ser Portugueses, mas estes
eram as grandes e respeitáveis figuras da nossa História.

Naturalmente que fiquei admirado, porque o Senhor Professor nunca me
falara nestas personagens tão importantes e apenas me citara os nomes
que constam dos textos do Professor Fernado Rosas.
Senhor Professor, dada a circunstância do meu pai ter visto, ouvido,
sentido e lido a Revolução de Abril, estou completamente baralhado, com
o que o Senhor me ensinou e com a leitura dos textos de apoio. Eu julgo
que o meu pai é que tem razão e, por isso, no próximo teste, vou seguir
os conselhos dele.

Não foi o Senhor Professor que disse que a Revolução nos deu a
liberdade de opinião? Certamente terei uma nota negativa, mas o meu pai
nunca me mentiu e eu continuo a acreditar nele.

Como ele, também eu vou pôr uma gravata preta no dia 25 de abril, em
sinal de luto pelos milhares de mortos havidos no nosso Império,
provocados pela Revolução dos Espinhos, perdão, dos Cravos.

O Senhor disse-me que esta Revolução não vertera uma gota de sangue e
agora vim a saber que militantes negros que serviram o exército
português, durante a guerra, que o Senhor chamou colonial, foram
abandonados e depois fuzilados pelos comunistas a quem foram entregues
as nossas terras.

Desculpe-me, Senhor Professor, mas o meu pai disse-me que o Senhor era
cego de um olho, que só sabia ler a História de Portugal com o olho
esquerdo. Se o Senhor tivesse os dois olhos não me ensinaria tantas
asneiras, mas que o desculpava porque o Senhor era um jovem e
certamente só lera o que o Professor Fernando Rosas escrevera.

A minha carta já vai longa, mas eu usei de toda a honestidade e espero
que o Senhor Professor consiga igualmente ser honesto para comigo, no
próximo teste, quando o avaliar.

Com os meus respeitosos cumprimentos

O seu aluno

Todos os anos, nesta data, se fala em comemorações em todo o país,
mas eu pergunto:
COMEMORAR O QUÊ????"

Salvador Mathias disse...

Com o pedido que fiz ao meu pai, começaram os meus problemas pois ele
ficou horrorizado com o que o Senhor Professor me ensinou e chamou-lhe
até mentiroso porque conseguira falsificar a História de portugal. Ele
disse-me que assistira à Revolução dos Cravos dos Capitães de Abril e
que vira com «os olhos que a terra há-de comer» o que acontecera e as
suas consequências.

Disse-me que os Capitães foram os maiores traidores que a nossa
História conhecera, porque entregaram aos comunistas todo o nosso
império, enganando os Portugueses e os naturais dos territórios, que
nos pertenciam por direito histórico. Que a Guerra no Ultramar
envolvera toda a sua geração e que nela sobressaíra a valentia dum povo
em armas, a defender a herança dos nossos maiores.

Que já não existia ditadura salazarista, porque Salazar já tinha
morrido na altura e que vigorava a Primavera Marcelista que,
paulatinamente, estava a colocar Portugal na vanguarda da Europa. Que
hoje o nosso país, conjuntamente com a Grécia, são os países mais
atrasados da Comunidade Europeia.

Que Portugal já desfrutava de muitas liberdades ao tempo do Professor
Marcelo Caetano, que caminhávamos para a Democracia sem sobressaltos,
que os jovens, como eu, tinham empregos assegurados, quando terminavam
os estudos, que não se drogavam, que não frequentavam antros de deboche
a que chamam discotecas, nem viviam na promiscuidade sexual, que hoje
lhes embotam os sentidos.

Disse-me também que ele sabia o que era Deus, a Pátria e a Família e
que eu sou um ignorante nessas matérias. Aliás, eu nem sabia que a
minha Pátria era Portugal, pois o Senhor Professor ensinou-me que a
minha Pátria era a Europa.

O meu pai disse-me que os governantes de outrora não eram corru pt os e
que após o 25 de Abril nunca se viu tanta corrupção como actualmente.
Também me disse que a criminalidade aumentara assustadoramente em
Portugal e que já há verdadeiras máfias a operar, vivendo à custa da
miséria dos jovens drogados e da prostituição, resultado do abandono
dos filhos de pais divorciados e dum lamentável atraso cultural, em
virtude de um Sistema Educativo, que é a nossa maior vergonha, desde há
mais vinte anos.
Eu fiquei de boca aberta, quando o meu pai me disse que a Censura
continuava na ordem do dia, porque ele manda artigos para alguns
jornais e não são publicados, visto que ele diz as verdades, que são
escamoteadas ao Povo Português, e isso não interessa a certos orgãos de
Comunicação Social ao serviço de interesses obscuros.

Salvador Mathias disse...

muita bem toni! e quem fala assim n e gago.

abraço

"Exmo Senhor Professor,

Sou obrigado a escrever-lhe, nesta data, depois de ter escutado, com
toda a atenção, a aula de História, que nos deu sobre a Revolução de
Abril de 1974.

Li todos os apontamentos que tirei na aula e os textos de apoio que me
entregou para me preparar para o teste, que o Senhor Professor irá
apresentar-nos, na próxima semana, sobre a Revolução dos Cravos.

Disse o Senhor Professor que a Revolução derrubou a ditadura
salazarista e veio a permitir o final da Guerra Colonial, com a
conquista da Liberdade do Povo Português o dos Povos dos territórios
que nós dominávamos e que constituíam o nosso Império.
Informou-nos também que a Censura sobre os órgãos de Comunicação Social
terminara e que a PIDE/DGS, a Polícia Política do Estado Fascista
acabara, dando a possibilidade aos Portugueses de terem liberdade de
expressão, opinião e pensamento. Hoje, todos eles podem exprimir as
suas opiniões nos jornais, rádio, televisão, cinema e teatro, sem
receio de serem presos.

Disse igualmente que Portugal era um país isolado no contexto
internacional e que agora fazemos parte da União Europeia e temos
grande prestígio no mundo. Que somos dos poucos países da União a
cumprir, na íntegra, os cinco critérios de convergência nominal do
Tratado de Maastricht para fazermos parte do pelotão da frente com
vista ao Euro.

Li os textos de apoio do Professor Fernando Rosas, onde me informam que
os Capitães de Abril são considerados heróis nacionais, como nunca
houvera antes na nossa história, e que eles são os responsáveis por
toda a modernidade do nosso país, pois se não tivesse acontecido a
memorável Revolução, estaríamos na cauda da Europa e viveríamos em
grande atraso, em relação aos outros países, e num total obscurantismo.

Tinha já tudo bem compreendido e decorado, quando pedi ao meu pai que
lesse os apontamentos e os textos para me fazer perguntas sobre a tal
Revolução, com vista à minha preparação para o teste, pois eu não
assisti ao acontecimento histórico, por não ter ainda nascido, uma vez
que, como sabe, tenho apenas dezasseis anos de idade.