quinta-feira, 6 de maio de 2010

Neste país de poetas


Somos o País dos Poetas.
Mas o anúncio de uma nova candidatura do candidato-poeta tem sido tudo, menos sinónimo de uma poesia alegre.
Pelo contrário. É uma narrativa, longa e maçadora, com um final que se adivinha muito triste.
Porque, há quatro anos, Alegre se candidatou contra o candidato socialista. E o candidato socialista tinha o peso de ser Mário Soares.
Porque, nos quatro anos que se seguiram às derrotas dos dois candidatos, Alegre nunca hesitou em fazer frente ao Governo e ao PS, votando, na Assembleia da República, contra algumas bandeiras do actual Partido Socialista.
Juntou-se, nesse período de tempo, com a esquerda radical do Bloco, severamente criticada e escolhida como inimigo número um pelos socialistas.
Depois da oposição que fez ao seu partido de sempre, lá apareceu, interesseiramente, ao lado do seu inimigo Sócrates na campanha para as legislativas.
Apresentou, depois, a candidatura nos Açores, sem cobertura televisiva. Porque o que não interessa nada aos portugueses, também deixou de interessar às televisões.
Não teve, ainda, o apoio do PS. Mas tem o apoio do Bloco de Esquerda.
No anúncio, quando se esperava um discurso à esquerda, que girasse em torno do Estado Social e outras coisas mais ou menos abstractas, Alegre falou para dizer que, se for eleito Presidente da República, não vai exercer os poderes que o chefe de Estado tem, mas tudo fará para estar sempre de acordo com o Governo do PS.
Ou seja, o contrário do que fizera enquanto candidato contra o PS, enquanto deputado eleito nas listas do PS e enquanto cidadão livre.
Daí que já nenhum português, que não faça parte do aparelho socialista ou que seja notável desse partido, preste qualquer atenção a esta novela que, há muito tempo, já perdeu todo o sentido.
Provavelmente, o apoio do PS irá surgir nos próximos dias. Apesar de já termos ouvido socialistas importantes dizerem que não irão, certamente, votar em Alegre.
Previsivelmente, vamos ver Sócrates ao lado de Louçã numa mesma sala, unidos à volta de um candidato presidencial único. As voltas que a vida dá…
São incoerências atrás de incoerências numa narrativa onde todos os personagens já engoliram muitos sapos.
Foi este o contributo do Bloco, do PS e de Alegre para que os portugueses continuem a não perceber os jogos políticos e permaneçam desligados da democracia.
No próximo ano, quando for anunciada a estrondosa derrota eleitoral, os portugueses vão suspirar de alívio. Vai ser o ponto final desta narrativa cheia de entrelinhas mas sem conexão, nada poética, nada Alegre…

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