terça-feira, 22 de setembro de 2009

A asfixia democrática


Os portugueses não são atrasados mentais e não se deixam levar por sorrisos arrogantes. Os socialistas podem tentar fazer passar a ideia de que ganharam na questão da asfixia democrática. Mas, em democracia, não ganha aquele que grita mais alto. E não tem sucesso aquele que tenta confundir um povo inteiro.
É evidente que a asfixia democrática não se resume ao caso Fernando Lima. O PSD fala disto há muito tempo. E os portugueses sentem essa claustrofobia nos empregos.
A asfixia democrática não é, infelizmente, apenas um pequeno conjunto de alguns casos pontuais. Não é só o caso Charrua. Nem aquela ida dos polícias por causa de uma manifestação. Nem o caso Moura Guedes. São todos esses casos, somados a muitos outros, que, por serem menos mediáticos, atingem com maior impacto o cidadão comum.
Ainda no que respeita ao caso Fernando Lima está por explicar a parte da história em que o jornal elogiado pelo Primeiro-Ministro publica correspondência privada de jornalistas do jornal criticado pelo mesmo Primeiro-Ministro.
Cavaco Silva demitiu, para já, Fernando Lima, porque não queria que os portugueses ficassem com a sensação de que havia alguém, na Presidência da República, que fizesse pressões nos meios de comunicação social. Não quis condicionar o voto dos portugueses. E, nesse sentido, fez bem. Não vejo outra interpretação além daquela de tentar tirar proveito de episódios para sobreviver a uma realidade económica e social dramática que, sendo discutida, poderia dar origem a uma derrota catastrófica do Partido Socialista.
Asfixia democrática é, também, além de vermos que o Governo tem um canal, agora parece que ainda há uma Benfica TV, mas do Partido Socialista - é o canal de notícias que dá, em directo, um espaço enorme a comícios do PS, com toda a estratégia de marketing que eles têm por trás.
Asfixia democrática foram os debates quinzenais na A.R., em que o Governo, no tempo em que não respondia às perguntas de deputados eleitos pelos cidadãos, se multiplicava a fazer promessas. Que, muitas delas, não passaram daí.
Asfixia democrática foi ainda a forma parcial com que este Governo tratou as duas regiões autónomas.
Asfixia democrática é esta realidade, que faz com que uma biografia de Sócrates não seja publicada e posta à venda antes das eleições. São os três socialistas que "boicotaram" o Muito Bom ao juíz da Casa Pia e de todos os outros militantes e simpatizantes do PS que intrumentalizam a justiça, colocando-a ao serviço dos interesses dos seus camaradas.
Tentar passar a ideia de que a asfixia democrática se reduz a (parte do) caso Fernando Lima é tentar fazer dos portugueses atrasados mentais.
E concluo, como iniciei: os portugueses não são atrasados mentais e não se deixam levar por sorrisos arrogantes.

4 comentários:

Maria Ana Castello-Branco disse...

concordo com tudo isso, mas escapa-me uma coisa: porque é que nos programas "Opinião Publica" da sic noticias dedicados às eleições legislativas (nomeadamente a seguir ao debate entre o primeiro ministro e a lider do PSD) 90% dos telefonemas e mensagens eram de apoio desenfriado pelo PS? Mas um apoio agressivo (daquelas pessoas que se sentem ameaçadas só pode).

Enfim, quanto ao teu comentario no meu blog, concordo mais uma vez. Seria bom so votar nas proximas presidenciais, mas neste momento o voto é mais decisivo devido a todo o clima e responsabilidade envolventes.

António Lopes da Costa disse...

Essa pergunta que fazes tem uma resposta que tanto eu como tu sabemos bem...

Beijinho

Anónimo disse...

desenfreado...

Pena que MFL, que fala e BEM deste tema tenha por compinchas no partido, pessoal da ameaça. Para que conste nunca vi a srª sua mãe a ameaçar ninguém.

Luis Melo disse...

Caso das Escutas: A Teoria da Conspiração

Toda esta questão à volta das escutas ao PR parece ser encenada. Dá a impressão de que tudo isto foi armado com um propósito bem definido. Mas talvez o objectivo de que alguns analistas falam não seja realmente o verdadeiro.

Há muito que se fala de uma alteração do sistema político português (mesmo que temporariamente). Grandes e pequenas figuras dos dois maiores partidos (PS e PSD) e também de outros quadrantes da sociedade já disseram em público que seria uma forte hipótese - para resolver a crise que atravessamos - ter um regime presidencialista.

Todos falam nisto tendo como pressuposto que Cavaco Silva seria o presidente que iria liderar esta mudança e que portanto nomearia um governo "de salvação". Conhecendo Cavaco sabemos que este governo não comportaria 99% dos políticos de hoje (nem de PS, nem de PSD).

Assim, parece óbvio que toda esta questão das escutas foi inventada por alguns elementos do PS, em conjunto com outros do PSD, para definitivamente "deitar abaixo" Cavaco Silva antes da decisão das legislativas. É que a hipótese de que falei atrás poderia ser posta em cima da mesa, desde já, caso nenhum dos partidos tivesse maioria.